A mente analítica, conquanto dotada de grande talento em dar profundidade ao objeto analisado, esmiuçá-lo, encontra dificuldades em visualizá-lo em ambiente dinâmico, interligado e em movimento. De um lado, a facilidade em penetrar e captar a essência das coisas; doutro, a dificuldade em visualizar o conjunto. Resumir ou, por outra, delinear superficialmente é o que essa mente recusa, privando a si mesma de uma visão panorâmica e frequentemente esclarecedora. A necessidade de isolar e aprofundar sempre, além de acarretar muito esforço inútil, pode privá-la de enxergar o essencial.
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Dia e noite…
Em pensamentos, o movimento último e extremo não executado em vida. E as consequências, todas elas afligindo e pulsando tão logo a cabeça pouse e os olhos fechem. A necessidade de aniquilar, jamais se esquecendo de uma única palavra, levando a cabo todos os impulsos violentos controlados pelo racional manifestando-se, todas as noites, enquanto reina o silêncio no exterior. Em vida, em arte, o esforço por abrandá-los, o esforço por lhes mascarar o caráter monstruoso, o esforço pelo predomínio da consciência. E assim a mente submerge em dupla vida.
Brincando de psicólogo…
Divirto-me analisando a mim mesmo sob a ótica de Jung. Adotando a terminologia já amplamente difundida de Myers-Briggs sou, desde que me lembro, um inconfundível INTJ (com I e J que só fazem aumentar). Tento visualizar-me como o faria Jung, então me insiro no meio circundante: impossível não concluir que queimo vivo numa fogueira! Mas como, ainda, não houve a reação violenta que se poderia esperar de alguém como eu? Talvez tenha havido, e disso é evidência a crescente radicalização de meu comportamento. Um tipo independente, solitário, com necessidade de planejamento, ação e controle não pode reagir tranquilamente se bombardeado o tempo inteiro com o imprevisível, atirado numa situação cada vez mais submissa, instável e invasiva, privado da estabilidade e solidão. Decidir, sempre, mesmo que erroneamente, mas colhendo os frutos do ato individual — o contrário é insuportável! Imagino-me ajeitando os óculos de Jung: “Rapaz, assim não… É hora. Faça algo imediatamente…”
A acuidade de Carl Jung
É incrível notar a acuidade de algumas observações de Jung quando aplicadas à conduta geral e os seus reflexos naturais numa sociedade. Quando percebemos que há uma busca por validação externa operando incessantemente e englobando mesmo os atos estritamente individuais, entendemos porque há um grau tão elevado de submissão ao meio — este, tido em massa como o árbitro soberano. Disso à exigência pública de uma conduta contra a própria vontade, — ainda que dissimulada, — sob pena de cadeia ou linchamento, não vai um palito. E os reflexos? Quão previsíveis! O homem social é amputado de personalidade; é uma marionete do comportamento coletivo. Basta que um imbecil suba a um palanque, convença uma claque, e então a massa infinita de ovelhas, por medo e necessidade, estará a abraçá-lo.