O determinismo é medíocre e covarde

O determinismo é, antes de tudo, medíocre e covarde. Ainda que seja, em alguma medida, ironizada severamente pelo fado, uma compreensão da realidade que ceda espaço ao livre-arbítrio é infinitamente superior a resumir o ser humano num fantoche. Se o mérito acaba inexoravelmente em derrota e, muitas e muitas vezes, vacila ou é tombado em seu próprio campo de ação, não quer dizer que não entregue dignidade ao ser que se escusa de justificativas que não fazem senão evidenciar a própria impotência. Compreender o mundo como imune à ação humana e a ação humana como um fenômeno incontrolável é resumir o ser humano num cachorro — o que pode até ser verdade, desde que não tomada como universal.

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A rainha da procrastinação

Antipática ao trabalho, por vezes negando-o terminantemente, é incrível notar como a mente estimula-se a labutar pela procrastinação. Se não há motivo, encontra-o: quer porque quer adiá-lo, precisa adiá-lo imediatamente. Amanhã, depois: agora, não. E assim naufraga a produtividade… O que poderia ser feito, não é. O pouquinho que, somado ao longo de muitos dias, tornar-se-ia algo robusto perde-se na fumaça da ociosidade. Acho que a frase é de algum filósofo; senão, que vá de mim mesmo: há casos que, fatalmente, exigem violência.

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Carência insuperável

Como ser livre se uma mínima desatenção expõe uma carência vivíssima que parece inerente à própria condição humana? Quer dizer: sem um monitoramento constante, uma atuação racional ininterrupta e o cérebro a barrar as manifestações vergonhosas de dependência e trilhar conscientemente o próprio caminho, o ser humano adota uma postura de insuficiência total. E terão de fantasiar para achar valor onde não há independência…

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A “terapia motivacional”

Espanta verificar que, exatamente no século imediato à erupção dos gênios da psicologia moderna, faça tanto sucesso a chamada “terapia motivacional”. “Superar problemas”: eis a impossibilidade — quando, obviamente, consideramos traumas psicológicos reais — transformada em produto na era do marketing. Quando surgem os meios para um aprofundamento drástico na compreensão da psicologia do ser humano, da origem dos traumas e havendo a possibilidade de utilizar a cognição para minorar seus efeitos indesejados, reduzir-lhes os meios de ação — e jamais superá-los, eliminá-los, — o homem vira as costas ao conhecimento e opta pela senda da infantilidade, troca a prudência analítica pela psicologia feliz, a psicologia cuja prática resume-se em “pensar positivo” e agir feito uma criança frente aos traumas que avassalam, por vezes sem emitir sinal. Tudo parece evidência de que gênios, quando surgem, fazem-no em vão…

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