Julgamento: ato insuportável!

Nada me é mais insuportável que o julgamento! Como, desde há muito, percebi que não posso deixar de fazê-lo — ainda que de forma impessoal, — aprendi a cultuar o silêncio. Silêncio que, a aparentar exteriormente a paciência e serenidade, implica uma interminável guerra interior. Odeio o julgamento e, ainda assim, julgo o tempo inteiro. Aniquilo-me quando me vejo a condenar condutas, e condeno todas, principalmente a minha. Pudera eu enforcar esses rompantes terríveis do juízo! Mas não há fim, nem sossego, e considero-me vitorioso por conservar um aspecto mínimo que remeta à humanidade.

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Em busca de sentido, de Viktor Frankl

Sempre me irritou a ideia, muito disseminada, de que o ser humano é apenas um cachorro. Vejo isso o tempo inteiro: seja no sujeito que julga a fome ser o principal problema do homem ou na psicologia que se atém aos instintos e jamais ultrapassa os instintos. Pois bem. Eis que nasce um gênio — e precisamos de gênios para dizer-nos o óbvio… — e diz o seguinte: há no ser humano uma dimensão espiritual que o define e o transcende. E o gênio, de nome Viktor Frankl, teve de provar na carne a validade da própria teoria, suportando as terríveis atrocidades de vários campos de concentração nazistas e mantendo a sanidade mental. Quer dizer: pulsa em nós o animal, mas há algo mais nobre. Abaixo um trecho do livro:

No campo de concentração, por exemplo, nesse laboratório vivo e campo de testes que ele foi, observamos e testemunhamos alguns dos nossos companheiros se portarem como porcos, ao passo que outros agiram como se fossem santos. A pessoa humana tem dentro de si ambas as potencialidades; qual ser concretizada, depende de decisões e não de condições.

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