O homem que se priva da dimensão religiosa perde em experiência, perde em potencialidade e perde, sobretudo, em conhecer-se. Havê-la é algo que não pode negar, e ignorá-la não é senão mutilar-se. Assim que, caso queira conhecer-se e entender-se inteiramente, deve estimulá-la e manifestá-la ainda que pela busca. E se, um dia, chegar à conclusão que o esforço religioso não o premiou, verá que sua própria existência já é evidência de uma aspiração superior, de um desejo sincero de encontrar o elo que o liga ao restante da criação: uma evidência, portanto, que não pode senão enobrecê-lo.
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Se algo se atingiu pelo enfraquecimento…
Se algo se atingiu pelo enfraquecimento da religião no ocidente, foi o enfraquecimento dos vínculos sociais no nível mais básico. O próximo bíblico tornou-se, mais do que nunca, um estranho, e o sentimento que permeava ou deveria permear uma comunidade, seja ele qual fosse, transformou-se numa generalizada e absoluta desconfiança. Rompeu-se um elo comum sem substituí-lo, e o resultado só poderia ser a segregação. Disso, não se pode concluir senão que o mundo tornou-se um lugar ainda mais hostil.
Quando se destrói aquilo…
Diz, em obra póstuma, o falecido papa Bento XVI:
La società occidentale è una società nella quale nella sfera pubblica Dio è assente e per la quale non ha più nulla da dire. E per questo è una società nella quale si perde sempre più il criterio e la misura dell’umano.
Disso deriva, em grande parte, o vácuo existencial em que a sociedade moderna se meteu. Quando se destrói aquilo que por muitos séculos serviu ao homem como um fulcro de sentido, uma certeza e um suporte, são inevitáveis o desamparo e a confusão. Desorientado, o homem moderno já não tem em que amparar-se e, desprovido de uma visão superior da existência, tornou-se menor. São discutíveis os benefícios da crença ao homem comum; contudo, não se pode negar que a prática religiosa força-o a enxergar uma realidade mais complexa e, frequentemente, eleva-o acima da banalidade cotidiana.
Charlatões espirituais
É realmente interessante acompanhar palestras de charlatões espirituais. Hoje, mais do que nunca, o mundo é-lhes propício. Então ficamos a admirar como uma cabeça calva, uns cabelos brancos e uma face enrugada impõem respeito, simbolizando a mais alta sabedoria e a mais séria meditação. Daí que somos como impelidos pelo bom senso a escutar em silêncio verdades as quais nossa experiência não teve a gentileza de nos apresentar. E vemos como fazem sentido, como somos boas bestas e como, após conhecê-las, devemos passar a viver. É uma pena que tal encanto não perdure…