Parece fictícia a biografia de Inácio de Loyola. Lê-la neste século, lê-la no ocidente observando que se tornou o ocidente, suas grandes cidades, suas preocupações, é como colocar-se diante de uma narrativa absurda. É de causar assombro a simplicidade como fatos estupefacientes se apresentam nesta “Autobiografia”, redigida pelo P. Luís Gonçalves da Câmara, que limitou-se a transcrever quanto ouviu da boca de Inácio. Algumas poucas vezes, lemos Inácio ter corrido risco de vida em sua trajetória, mas a impressão que ficamos é que, desde que saiu da casa paterna, esteve ele sempre em constante ameaça. Prisões, julgamentos, perseguições, doenças, incrível penúria… é difícil imaginar condições mais severas para este homem reputado santo. O simples superar a sexta década de vida, como fê-lo, já se afigura a nós, homens mal-acostumados, um verdadeiro milagre.
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É realmente admirável a maneira como Swami Vivekananda…
É realmente admirável a maneira como Swami Vivekananda interpretou e expôs o hinduísmo, integrando-o, alargando-lhe os braços e convertendo-o num legítimo catalisador de transformações positivas para o ser humano. Seu Raja yoga é a exteriorização de uma filosofia nobre, corajosa e estimulante. Pouquíssimos são os autores capazes de compreender em profundidade a condição humana e oferecer uma solução que não implique a repressão forçada ou o desvanecimento da vontade. Swami Vivekananda, em vez de conduzir a um agravamento de tensões ou ao eclipse da consciência, propõe uma conduta mental ativa direcionada à elevação da própria natureza. Constrói, engrandece, encoraja a superação. Grande homem!
As religiões sempre medraram em meio a intenso conflito
Foi algum teosofista que disse as religiões terem surgido adequadamente, cada qual à civilização em que irrompeu. Parece uma afirmação demasiado poética, que implica uma harmonia universal só existente na fantasia, e refutada violentamente pela história. Antes de civilizações, há indivíduos, e a estes geralmente não é oferecido um cardápio de crenças, para que eles escolham conscientemente a mais adequada a si mesmos — pior seria julgá-los essencialmente adequados ao próprio meio. O correto seria dizer que as civilizações moldaram as religiões que em si floresceram, sendo elas apropriadas ou não. As religiões sempre medraram em meio a intenso conflito, verdadeiras batalhas quer a nível social, quer individual. A primeira prova de uma religião é sobrepor-se às crenças anteriores. Disso extrai-se o óbvio: tivessem nascido as religiões tão perfeitamente adequadas ao meio, teríamos paz, e não, como evidencia a história, uma progressiva e violenta “adequação”.
Raciocínio intragável
Sinto-me perfeitamente capaz de imaginar efeitos impressionantes provenientes das práticas tântricas budistas, que não são senão um processo de reeducação mental. Mas nem o budismo, nem qualquer outra escola oriental pode convencer-me do contrassenso de negar a realidade, não importa quão maravilhosos efeitos prometam com o fazê-lo. Compreendo os perigos de valorar sobre o erro, compreendo, sobretudo, a necessidade de romper com os laços terrenos; mas minha mente rechaça violentamente o considerar-me um nada em essência, envolto num nada desprovido de qualquer fundamentação: zeros e mais zeros, e nunca alguma coisa. Não! Há ilusões e posso distingui-las porque há, também, algo não ilusório. Há a mente e os produtos da mente, como há uma realidade exterior que se lhes difere. Lamento, lamento, mas não posso aceitar como fenômenos idênticos um soco na cara imaginário e um soco na cara real — e posso, quem diria!, provar o que digo.