A poesia, essa arte terrivelmente difícil, é um exercício contínuo de paciência. Não adianta: a pressa, em poesia, é sempre o erro. É um verdadeiro transtorno saber que, por um lado, é preciso se aproveitar das manifestações espontâneas, que brotam como rajadas e conferem grande potência aos versos; mas, por outro, é preciso deixar que os versos esfriem, solidifiquem, e então esmerá-los calmamente, ajustando o ritmo, trocando palavras, apurando a expressão. Dói sobremaneira a punhalada que é notar uma mácula originária da afobação. Todo um exaustivo trabalho, pois, conspurcado quando já não é possível repará-lo. Dele, ao artista, ficará somente a falha, somente a frustração. Por isso o labor poético é um exercício de autocontrole, de paciência, em que o poeta deve atuar também como estrategista, liberando e contendo-lhe os impulsos, suspeitando de si mesmo ainda quando concluirá que não havia de fazê-lo. E, ainda assim, não será suficiente…
Um exercício contínuo de paciência
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