Vanitas, de Olavo Bilac

Vanitas

Outro belo soneto de Olavo Bilac:

Cego, em febre a cabeça, a mão nervosa e fria,
Trabalha. A alma lhe sáe da penna, allucinada,
E enche-lhe, a palpitar, a estrophe illuminada
De gritos de triumpho e gritos de agonia.

Prende a idéa fugaz ; doma a rima bravia;
Trabalha… E a obra, por fim, resplandece acabada:
«Mundo, que as minhas mãos arrancaram do nada!
Filha do meu trabalho! ergue-te á luz do dia!

Cheia da minha febre e da minha alma cheia,
Arranquei-te da Vida ao adyto profundo,
Arranquei-te do Amor á mina ampla e secreta!

Posso agora morrer, porque vives!» E o Poeta
Pensa que vae cahir, exhausto, ao pé de um mundo,
E cáe — vaidade humana! — ao pé do um grão de areia…

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