É realmente espantoso a que ponto chegou a psiquiatria moderna! É quase como se fosse necessário um recomeço do zero, uma queima conjunta de todos os livros e o abandono completo de todas as classificações. Um homem que apresente qualquer mínimo conflito interior já está infalivelmente doente; quanto a isso não há discussão. E aí ficamos a pensar no estado vexatório em que a ciência se colocou. Não se pode concluir outra coisa senão que o homem está tanto mais saudável quanto menos pense, ou quanto menos o pensamento lhe influencie a vida; em outras palavras: a ciência da mente estipulou como modelo de higidez mental o homem cuja mente não atua. Há nisto algo de maravilhoso e inacreditável; é sem dúvida uma proeza das maiores e não cansa de surpreender. Alta para o bobo alegre e terapia para os antissociais, para os melancólicos, para os misantropos, para os sorumbáticos, para os solitários e para os silenciosos! Terapia para aquele que não consegue chegar em casa do trabalho e sorrir coçando a barriga diante de uma televisão! Terapia, e que troquem para sempre os doentes as obras filosóficas por livros de colorir!