Sorrio percebendo-me a repugnância por sistemas filosóficos. A construção de um monumento lógico; o enquadramento da realidade, em todas as suas infinitas nuances, numa sistemática racional: nada disso desperta-me o interesse, tudo isso parece-me proveniente de um erro primário. A construção de um sistema filosófico exige a mutilação da realidade: sua aplicabilidade no mundo real, na vida prática, pois, é quase nula. Que sobra além do sistema? Há algo capaz de impactar uma conduta, alterar uma relação entre indivíduo e meio, moldar uma postura real? É o que me pergunto ao julgar a obra de um filósofo, e sorrio ao ver-me a incapacidade de embarcar no delírio e reputar como maravilhoso aquilo aplicável somente no mundo das abstrações. A filosofia que se preze deve ser capaz de enxergar a cadeia, o hospício, o mosteiro e a casa de prostituição.
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