O artista boêmio é uma falsificação

De Pío Baroja:

Los pintores —añadió Larrañaga con aire agresivo— serían los menos inteligentes de los artistas si no existieran los escultores, los músicos y los cómicos, que son la quintaesencia de lo cerril. La mayoría de ellos son unos patanes llenos de suficiencia. Nada tan aburrido como un artista. Es más ameno hablar con la portera o con un tendero de comestibles. El pintor y el bohemio, como tipos amenos, ingeniosos y espirituales, son falsificaciones de nuestra época.

Não há negar: a boêmia deu ao mundo uma meia dúzia de gênios e, por cada um deles, o mundo produziu uns bons milhares de imbecis. Tais rodas, todos sabem, formam-se sempre de pretensos artistas, e acolhem, esporadicamente, um ou outro digno do nome. Mas este, tão naturalmente como as visita movido pela curiosidade, logo as abandona motivado pela desilusão. Perda de tempo, esterilidade e presunção. Nestas rodas, a arte não é senão pretexto, tal como noutras o futebol, a vida alheia ou a política. O artista boêmio é, mesmo, uma falsificação.

O Brasil é o país onde a posteridade não redime

O Brasil é o país onde a posteridade não redime. Disso a historiografia dá provas irrefutáveis, especialmente a historiografia literária. O que há de bom não é lido — é como se não existisse. E o que circula, quando lemos, sentimo-nos diante de paupérrimos resumos esquemáticos que jamais fazem referência a vidas e obras de homens reais. Tais esquemas só conseguem perpetuar a incompreensão e propagar o desinteresse, e quando os analisamos pelas ausências, ou pelas inverdades, ou pela displicência, aí o que sentimos mesmo é vontade de desistir…

Muito de interessante se aprende…

Muito de interessante se aprende nestes modernos estudos linguísticos, sobre os quais se apoia grande parte da filosofia atual. O problema é que, após algumas dezenas de páginas, sentimo-nos estranhamente navegando longe, muito longe da realidade, já num ponto onde não se pode estabelecer com ela nenhuma conexão. Daí que, se assumimos o argumento apreciado, metemo-nos em tremenda confusão. O erro é demasiado evidente: tais autores, conscientemente ou não, trocaram a experiência pela linguagem, como se fossem estas permutáveis, como se fosse aquela dispensável. Um erro simples; porém, uma vez cometido, dificílimo de contornar.

É sobretudo estéril essa crítica…

É sobretudo estéril essa crítica que não consegue analisar um verso sem associá-lo a um “movimento”, como se o autor, ao compô-lo, não pensasse senão em adequá-lo a uma “corrente”, em apoiá-lo num amontoado de chavões distintivos de uma “estirpe”. Quantos grandes poetas o fizeram? É sintomática essa recusa em enxergar o indivíduo, ou melhor, essa insistência em querer enxergar uma artificial mentalidade coletiva, na maioria dos casos não apenas inexistente, mas impossível. Às vezes, para evitar este ridículo, parece que o melhor seria não recorrer jamais a semelhantes classificações…