Ao homem nunca é dada a possibilidade de fazer tudo aquilo que quer, mas, igualmente, nunca lhe é negada de todo a possibilidade de agir. Tudo fica sempre entre estes dois extremos e, na maioria das vezes, pode-se fazer mais do que se supõe. Não se pode, porém, agir no pretérito ou avançar no tempo, e tais impossibilidades frequentemente constrangem. Tais impossibilidades, em verdade, só podem constranger, e enquanto não se aprende a desprezá-las, não se valoriza o muito, o até sobejo que se pode aproveitar.
É interessante notar que algumas personalidades…
É interessante notar que algumas personalidades fundam-se num elemento irracional que, embora possa parecer às vezes absurdo, opera como unificador. Só de imaginar-lhe ausente, o ser inteiro desmorona. Contudo, o atributo de loucos frequentemente recebido é, se não falso, extremamente simplista. Porque o mesmo irracional que atira nas contradições mais escandalosas, que induz a erros incríveis, que turva a razão e descontrola, é também responsável por uma coesão, por uma energia e por uma resistência que parecem sobre-humanas. Personalidades assim, incomuns, mas existentes, invalidam os manuais de comportamento e, afinal, enriquecem o conceito que se faz do homem.
A relação de alguns escritores com a doença…
A relação de alguns escritores com a doença é algo difícil de explicar. Uma pessoa normal, sem o menor desconforto, encontra as desculpas que precisa para não escrever. Se padece de alguma enfermidade, não há nem o que dizer. Então vemos não um, nem dois, mas muitos escritores que não apenas persistiram na doença por meses, anos, por uma vida inteira, mas fizeram da própria doença fonte de motivação. Não é pouca coisa, e não é algo fácil de imaginar. Há doenças com as quais nunca se acostuma; mas parece que, justamente estas, encurralam e não deixam outra opção.
É estranho desconhecer inteiramente…
É estranho desconhecer inteiramente, cem por cento da produção literária contemporânea e notar que escritor nenhum de país nenhum jamais se comportou assim. Escrever, fazer da escrita o centro da existência, e jamais ter aberto um romance de autor vivo! Desconhecer nomes, títulos, tudo! E prosseguir como se tudo estivesse dentro da normalidade… Se isso faz ou não faz falta, é questão ociosa; mas decerto é atitude que reforça a sensação de isolamento total.