Um homem honrado e ciente da própria dignidade

Um homem honrado e ciente da própria dignidade, se convencido educada e respeitosamente de que determinada ação é boa e justa, de bom grado a efetiva, agradecendo pelo conselho. Se, em contrapartida, este mesmo homem honrado é ordenado a executar determinada ação sob ameaça de castigo, reagirá por instinto, impelido pela própria honra, de forma contrária ao sujeito desrespeitoso que o ameaçou. Disto a conclusão natural: ordens e ameaças são ofensas a qualquer um que tenha senso de dignidade.

Velhice, doença e morte…

Velhice, doença e morte; velhice, doença e morte: as obsessões que pavimentaram o caminho de Buda rumo à “iluminação”. Mais do que olhos abertos, é preciso coragem para confrontá-las. Buda compreendeu que nada vale o pensamento que não incorre em ação: do raciocínio extraiu filosofia, desta pautou-lhe a conduta. Velhice, doença e morte: tudo o que vive condenado ao suplício, ao esgotamento e à supressão. Quer sempre a mente iludir-se; pois que padeça, amargue diariamente as conclusões do juízo, até que tenha de si arrancadas todas até a última ilusão! E assim, ensina o arguto e iluminado psicólogo, escapa-se do ciclo maligno que redunda sempre em sofrimento e destruição.

O budismo é uma religião para sábios

O budismo é uma religião para sábios, e é exatamente por isso que não pode ser seguida — sequer compreendida — pela massa: não foi moldada para ela. Para tornar-se budista é necessário, primeiramente, pensar, em seguida ser capaz de escolher, tomar um caminho por iniciativa pessoal.. As virtudes de um budista são absolutamente intragáveis para o ser humano comum, que não somente as não compreende como as despreza em sua mais íntima essência. Despegar-se dos prazeres e laços mundanos, arrancar o desejo pela raiz, refugiar-se no silêncio, expurgar a mente, anular o instinto gregário… tudo isso é repugnante para criaturas incapazes de pensar e avessas ao esforço individual.

Thomas Carlyle sobre Maomé

O ensaio de Thomas Carlyle sobre Maomé é notável. De início, pela prosa superior: como impressiona acompanhá-lo a manejar a língua inglesa! É uma prosa viva, repleta de imagens expressivas, inteligente e variada sintaticamente. Depois, pela capacidade de Carlyle em ver o que os outros não enxergam, pela coragem de confrontar a corrente, rejeitando a lógica cega e buscando entender o que se encontra por trás e para além das linhas de Maomé. Muito bonito, muito bonito… é um ensaio prazeroso de se ler. De toda forma, creio que ainda prefiro sentar-me à mesa de Voltaire.