Um problema é problema desde que a mente assim o classifique

De Lao-tsé, em tradução inglesa:

Stop thinking, and end your problems.

Que verdade! Um problema é problema desde que a mente assim o classifique — condições e fatos são frios; qualificação é obra mental. Tido o problema, as consequências: ansiedade, preocupação, conflito, perturbação psicológica. Anular a mente, bridar pensamentos… se há paz possível ao homem, eis o caminho. Contudo…

Os detalhes pavorosos de um ritual de magia negra

Conhecendo os detalhes pavorosos de um ritual de magia negra, nota-se sem espaço para dúvida que o operador materializa-lhe, de antemão, a vontade maligna e repugnante. Disso a dizer que a magia funciona é pouco. Toda a dificuldade da preparação, o esforço envolvido, a necessidade de reafirmação contínua do voto, a focalização e estimulação mental em prol do objetivo malévolo… tudo isso antes da consumação do ritual terrível, do ato voluntário e sem retorno possível. A consciência daquele que opera semelhante monstruosidade morre para sempre; psicologicamente, é um caminho sem volta, um caminho que só pode avançar para mais e mais trevas, senão para a loucura ou suicídio. Chega a ser inacreditável constatar quão fundo a natureza humana é capaz de descer, quão ilimitada é-lhe a potencialidade do mal… o impulso é de cuspir-lhe na face e praguejar infinitamente contra essa espécie maldita.

O quebra-cabeça existencial

Já se foram duzentas páginas deste “Papus” e confesso não fazer ideia do que havia nelas. Desde o princípio, foi começarem as analogias infinitas, a matemática criativa, a semântica subliminar, os pantáculos, as tabelas que seguem-se de tabelas e tabelas, e coloco-me a dimensionar o tédio do deus que planejou tudo isso para um investigador como “Papus” desvendar-lhe a criação. Se foi assim mesmo, é certo que este deus deve ter explodido de alegria com o tal “Papus” que, montando o quebra-cabeça, livrou-o da solidão. É como se tivesse encontrado um companheiro para jogar. Porém, com a imparcialidade de um psicólogo, diagnosticaria que este deus está a um triz do suicídio.

O ocultismo moderno

Começo em Helena Blavatsky, — novamente, graças a Pessoa, — sigo por Éliphas Lévi, Max Heindel, A.P. Sinnet, e chego agora em Gérard Encausse, esse tal “Papus”. Que dizer? É incrível como sou resistente. Meu entusiasmo com o chamado ocultismo moderno durou pouquíssimas páginas. E mesmo assim sigo dando crédito aos autores, fingindo não estar farto desse vocabulário repleto de “mistérios”, “chaves”, “segredos”, analogias incrivelmente tediosas — para não dizer estúpidas… Leio-os e sinto a presença física de Voltaire, instigando-me a zombar dos reveladores que ocultam o próprio nome. Não, meu amigo, não o farei… Interessante lembrar que disse outro dia nunca ter experimentado a sensação de estar diante da revelação de uma verdade. De uma mentira, porém… calma, muita calma, que já cometeríamos a injustiça de misturá-los todos no mesmo saco.