Meus dedos rebeldes estão ouriçados após o contato com as conferências de Thomas Carlyle. Querem respondê-lo, querem porque querem — mas não irão. Lamento dizer aos escravos que se controlem e contentem-se com a breve ironia que lhes já foi permitida. Thomas Carlyle, com efeito, é uma inteligência notável e instrutiva; a interpretação de seus “heróis” muito tem a acrescentar. Não sei por que motivo, analisá-lo traz-me Chesterton à mente: talvez porque ambos mereçam, a despeito da incompatibilidade patente, o meu aperto de mão.
A maneira de Nelson construir prosa
É curiosa a maneira de Nelson construir prosa. Seja nos romances, nos contos ou mesmo nas crônicas, é claríssima a sua obsessão em enquadrar o texto numa estética predefinida — age em prosa como fazem em verso os poetas. O andamento de suas narrativas segue quase sempre um protocolo, e o resultado é um estilo pronunciado e inconfundível. Houve o tempo em que eu julgava a padronização essencial para o grande estilo. Hoje, enxergo um pouco diferente. Admiro construções regulares, mas creio preferir variedade: velocidade num dia; noutro vagar, lenta cadência, vírgulas em vez de pontos finais. Estilos, formatos, compassos, e não dinamismo estático ou lentidão terminante. O difícil, contudo, é identificar mestres em múltiplos estilos, capazes de satisfazer numa mesma obra os anseios do habituado a alentar-se trocando de prateleira.
Um homem honrado e ciente da própria dignidade
Um homem honrado e ciente da própria dignidade, se convencido educada e respeitosamente de que determinada ação é boa e justa, de bom grado a efetiva, agradecendo pelo conselho. Se, em contrapartida, este mesmo homem honrado é ordenado a executar determinada ação sob ameaça de castigo, reagirá por instinto, impelido pela própria honra, de forma contrária ao sujeito desrespeitoso que o ameaçou. Disto a conclusão natural: ordens e ameaças são ofensas a qualquer um que tenha senso de dignidade.
Velhice, doença e morte…
Velhice, doença e morte; velhice, doença e morte: as obsessões que pavimentaram o caminho de Buda rumo à “iluminação”. Mais do que olhos abertos, é preciso coragem para confrontá-las. Buda compreendeu que nada vale o pensamento que não incorre em ação: do raciocínio extraiu filosofia, desta pautou-lhe a conduta. Velhice, doença e morte: tudo o que vive condenado ao suplício, ao esgotamento e à supressão. Quer sempre a mente iludir-se; pois que padeça, amargue diariamente as conclusões do juízo, até que tenha de si arrancadas todas até a última ilusão! E assim, ensina o arguto e iluminado psicólogo, escapa-se do ciclo maligno que redunda sempre em sofrimento e destruição.