Nada desordena o pensamento como um acesso de raiva. Um único e breve impulso raivoso e o espírito, transformado, perde completamente o controle e a concentração. Desligar-se, deixar que arrefeça, atalhar a ação… Dizem os budistas que um único momento de raiva destrói quanto tenha sido acumulado de virtude pelo ser ao longo de suas múltiplas existências. De todo modo, o certo é que o pleno funcionamento mental exige calmaria e o sangue frio como o de uma serpente.
O artista torna-se o que é capaz de representar
O artista torna-se o que é capaz de representar em sua obra. Toda a dimensão resume-lhe no que consegue converter em arte. Como homem, é como se não existisse; desaparece tão logo o corpo feneça. Por isso vive enquanto cria, constrói-se fazendo arte — todo o resto lhe vale somente como matéria-prima e somente se transformado em obra.
Não há percepção superior à de transitoriedade
Como está dito no Mahaparinirvana sutra, não há percepção superior à de transitoriedade. Contemplando a morte, — e a morte próxima, — o ser enxota de si a dimensão rasteira, isola-se dos desejos mundanos e impossibilita a manifestação do orgulho. Tomando consciência da impermanência de tudo o que há nesta terra, a ignorância característica do modelo humano inferior torna-se impossível. A morte não surpreende aquele que para ela se prepara e considera cada dia como o possível derradeiro. A percepção de transitoriedade torna inconfundível o fútil, e impede que o ser afaste-se do essencial.
A tradição oriental enfatiza a necessidade de um mestre espiritual
A tradição oriental enfatiza a necessidade de um mestre espiritual. Como se os houvessem aos montes… Mas é notável nos orientais a noção viva de que há um componente do conhecimento não transmissível através de livros, isto é, algo apreensível somente através da raríssima experiência direta ou da revelação de mestre para discípulo. O que impressiona é a verdadeira veneração pelos antepassados, pelos sábios, e ademais pela manutenção da tradição de, através de poucos indivíduos, ser estabelecido um elo entre gerações muito distantes através do conhecimento repassado individualmente a discípulos escolhidos a dedo. Nem o poderoso tempo parece forte o bastante para fazer quebrar a sólida corrente que os orientais firmaram para transmitir as iluminações de dezenas de séculos atrás.