A distinção da música

Entre todas as artes, é a música indubitavelmente a que melhor possibilita a expressão de sentimentos sem nome, estados de alma complexos e logicamente inexprimíveis, como é também a que melhor permite a concatenação de impressões e sensações díspares, operando como que uma conciliação impossível. Deixar-se conduzir por um Chopin é imergir num campo onde afloram emoções múltiplas que atiram a percepção em êxtase. Chopin: o gênio que harmonizou sutileza e intensidade elevando-as simultaneamente ao cume — a primeira mediante a mão direita, a segunda mediante a esquerda.

O poder é sempre o reflexo de uma relação de domínio

Se medimos o poder pela aptidão — disponibilidade de meios — para a corrupção da vontade ou ação alheias mediante a imposição da própria vontade, vemos que o poder é sempre o reflexo de uma relação de domínio. Se quebramos a relação e isolamos o lado dominador, analisando-o de si para consigo mesmo, notamos que tal poder é inútil e ordinário. O desejo de poder, na acepção vulgar, é sempre um desejo que foca as lentes no outro, na subjugação do outro, no fortalecimento perante o outro — e, por isso, abjeto. Desejar influência é demonstrar-se alguém que, não obstante a vaidade manifesta, reputa o outro em destaque na equação da própria vida — menosprezando-o, porém, como inconscientemente menospreza a si mesmo.

O Estado é uma máquina tirânica odiosa

O Estado é uma máquina tirânica odiosa cujas funções resumem-se em decretar leis, forçar os cidadãos a engoli-las e punir quem se indisponha a fazê-lo. Seus meios são a opressão e o mando; seus recursos são quanto toma à força do indivíduo. Entre todos os deuses do panteão moderno, é este talvez o mais repugnante, cuja atuação nunca pode ser aprovada por aquele que aprendeu a valorizar honra e liberdade. Blasfemar contra esse monstro corruptor de almas e valores é dever moral.