Há seres humanos adaptados e inadaptados

Há seres humanos adaptados e inadaptados, satisfeitos e inconformados, aqueles que gostam da vida e aqueles que acham-na um incômodo. Os que vivem, os que pensam; conforto, desconforto; esperança, desilusão. Pode haver, no ser humano, ambas as dimensões; pode ser que as não haja. Estranha observar o consenso velado de que haja um “normal”. A verdadeira pergunta é: como conduzir as diferentes e naturalíssimas disposições mentais? Respondendo-a, notaremos que se extrai valor do equilíbrio e do caos.

A democracia quer a si mesma como a grande protetora do indivíduo

A democracia quer a si mesma como a grande protetora do indivíduo. Possui “freios e contrapesos” para coibir o abuso e a exploração. Engraçado! Pois se lhe analisamos o filho legítimo, isto é, o político democrático, notamos o seguinte: num regime democrático, não há freios contra a estupidez! Vamos ver. A que se dedica o político democrático? estuda? prepara-se para o cargo que pretende exercer? qualifica-se, de alguma maneira, para executar alguma função? comprova, de alguma maneira, a própria capacidade antes de subir ao posto? Negativo. O político democrático dedica-se, apenas, a conquistar votos. Para eleger-se, basta que compre apoio ou invista em marketing. Qualquer outro esforço é improfícuo e pouco inteligente. Imaginemos, agora, uma medida antidemocrática: o sujeito, para ser candidato, precisa ser aprovado numa prova de capacitação. Urros! berros! Tornar analfabetos inelegíveis seria uma agressão à soberania do povo! E assim, a história parece escancarar que o indivíduo está sempre, sempre em posição de vítima — na democracia, sobretudo, vê-se açoitado pela burrice popular.

Ciência e democracia

Ciência e democracia: os vocábulos mágicos do ocidente pós-moderno. Quando convertidos em adjetivos ou advérbios, conferem a qualquer termo um caráter incorruptível, magnífico, sagrado. E a política, nojenta política, não faz senão explorá-los. O processo não guarda segredo: é apoiar-se, em nome da “ciência” ou da “democracia”, à realização da própria vontade. E então espoliar liberdades. Quem será o louco a se declarar anticiência? E a ciência pode dizer — deve dizer! — ser questão de saúde pública algo como a gestação artificial, ou a extinção de carne vermelha dos cardápios, ou qualquer outra medida que, impreterivelmente, deve ser adotada por todos, sob pena de multa ou cadeia — aqui, é claro, a atuação do deus Estado. Muito bem! Pois se é sobre o nome da “ciência” e da “democracia” que este século se apoiará para avançar sobre a liberdade individual, folgo em declarar-me, a mim mesmo, o primeiro animal anticiência e antidemocracia do ocidente.