O otimista carece de senso de humor

O otimista carece, sobretudo, de senso de humor. Se sorri, fá-lo desde que lhe não agridam as “convicções”. Não passa frequentemente de um fanático, apóstolo da crença no futuro luminoso, incapaz de caçoar de seus próprios e seguidos fracassos. Parece paradoxal brotar humor do pessimismo, mas é só aparência: o pessimismo surge do raciocínio, e o humor da modéstia imposta pelas conclusões ao intelectualmente honesto. O otimista não ri de si mesmo — portanto, geralmente não sabe pensar. O experimento é muito simples: ridicularize-se, por graça, um sujeito que afirma o futuro lhe guardar um pote imenso de ouro — ver-se-á imediatamente as veias lhe pulsarem de cólera. Faça-se parecido a um pessimista: chame-o de ranzinza, urubu ou reclamão — e ver-se-á, naturalmente, brotar-lhe um largo sorriso na face.

A imagem que fazemos de autores e obras, com o tempo, cria vida e se move

A imagem que fazemos de autores e obras, com o tempo, cria vida e se move. Então podemos experimentar impressões impossíveis no instante contíguo ao contato com eles, impressões que exigem distanciamento e maturação. Se, por um lado, essas impressões podem expandir nossa compreensão, por outro podem afastar-nos do mais importante. Por isso, daqueles que nos são caros, a releitura é tarefa obrigatória.

“Acredito no futuro do homem”

Um congresso que reunisse todos aqueles que dizem acreditar no futuro do homem acabaria, sem dúvida, numa terrível desavença. Discussões acaloradas, faces tingidas de sangue e olhares raivosos: somente assim se poderia passar. É simplíssimo o psicológico de alguém que venera palavras como “futuro” e “progresso”. Este alguém leva-se a sério, acredita em si mesmo, possui “convicções”. Acreditar no futuro do homem é acreditar em si mesmo como agente transformador, é ter soluções e querer propô-las, defendê-las, combatendo quem quer que apresente oposição. “Acredito no futuro do homem”, diz alguém, e o ouvinte inteligente já infere o “e você também deveria acreditar!”.

Como é possível?

“O homem nunca se assume pouco inteligente” — assim disse e adiciono: foi-me a maior humilhação descobrir-me, já adulto, um analfabeto. Senti-me absolutamente humilhado ao perceber-me incapaz de ler em meu próprio idioma e, portanto, encontrei-me exatamente um analfabeto. Intolerável! Um único recurso de estilo — estes presentes em cada frase de um grande escritor — privava-me do sentido de um período — um verdadeiro terror julgar inútil o próprio dicionário! — Mas por que digo isso? Percebendo-me apedeuto, passei a estudar gramáticas com fervor quase religioso. Hoje, a surpresa: estes livros maçantes têm-me parecido agradáveis. Como é possível?