Lavelle faz uma interessante distinção entre o homem livre e o escravo, identificando o primeiro como aquele que faz coincidir a alegria com sua atividade mais habitual, e o segundo com aquele que as separa. Assim, o que os distingue é a satisfação naquilo que fazem, que extrapola as circunstâncias às quais estão submetidos. De tudo o que decorre desta visão, talvez seja isto o mais importante: às vezes, basta pouco para ser livre e, às vezes, é-se escravo sem saber.
Às vezes é muito difícil detectar a falsidade…
Às vezes é muito difícil detectar a falsidade quando se analisa apenas palavras; mas é sempre possível presumir quanto ganha o emissor em proferi-las. Noutras palavras: é sempre possível dimensionar-lhes o impacto em seu interesse pessoal. Nada disso é novidade; contudo, este exercício pouco praticado é ótimo para classificar aqueles que demandam cautela, e aqueles em cuja autenticidade do discurso se pode confiar.
A distinção mais evidente daquele…
Ainda outra de Lavelle:
Toute notre responsabilité porte donc sur l’usage des puissances qui nous appartiennent en propre. Nous pouvons les laisser perdre ou les faire fructifier. Ainsi notre vocation ne peut être maintenue que si nous restons perpétuellement à son niveau, si nous nous montrons toujours digne d’elle. Le rôle de notre volonté est plus modeste qu’on ne croit ; c’est seulement de servir notre génie, de détruire devant lui les obstacles qui l’arrêtent, de lui fournir sans cesse un nouvel aliment : ce n’est point de modifier son train naturel ni de lui imprimer une direction qu’elle a choisie.
A distinção mais evidente daquele que discorre seriamente sobre temas como vocação, felicidade e realização é utilizar palavras como responsabilidade, esforço e dever. A “vontade”, assim, jamais pode ser compreendida como inclinação ao agradável, ao deleitante, ao infantil prazer freudiano, mas somente como empenho efetivo na superação de obstáculos, como resistência que impede o indivíduo de deslocar-se do próprio centro, e não o faz senão o estimulando a ser aquilo que é.
“Il s’agit de se réaliser”
Mais uma de Lavelle:
Tout le secret de la puissance et de la joie est de se découvrir et d’être fidèle à soi dans les plus petites choses comme dans les plus grandes. Jusque dans la sainteté, il s’agit de se réaliser. Celui qui tient le mieux le rôle qui est le sien, et qui ne peut être tenu par aucun autre, est aussi le mieux accordé avec l’ordre universel : il n’y a personne qui puisse être plus fort ni plus heureux.
O mais curioso desta verdade, expressa por Lavelle da maneira mais clara e direta que se pode conceber, é que ela só pode ser compreendida por aquele que a vivenciou em algum grau. “Il s’agit de se réaliser” — e são tão variados os meios pelos quais se pode fazê-lo, que é dificílimo captá-lo como experiência comum, como talvez necessidade, destino e dever individual. O pior é ver que, em muitos casos, não há ninguém além do próprio indivíduo capacitado a identificar e julgar “le rôle qui est le sien”.