O acordo com o poeta

Abro, graças a Pessoa, um volume de astrologia. O autor, já na introdução, adverte-me: “Se você não acredita nos princípios do que será exposto nesta obra, então ela não lhe terá utilidade alguma”. Fecho o volume, agradecido, e passo para o próximo. Que a astrologia funciona não resta a menor dúvida: basta abrir um aplicativo de namoro. Mas, em resumo, uma crença? Estudar para confirmar, sustentar uma crença? Por que não o contrário? Conquanto me empenhe, o acordo com o poeta parece não chegar. É em desalento que noto: o mosquito da crença não me picou.

É impossível ler em latim sem estar num estado absoluto de concentração

É interessante notar como é impossível ler em latim sem estar num estado absoluto de concentração, sem que a mente se volte inteiramente para a compreensão do texto. Os olhos, caso percorram linhas latinas dispersos, não fazem senão gastar o próprio tempo. E que dizer destes clássicos? Adicione-se à necessidade de esforço ininterrupto qualquer sorte de iluminação divina — isso, é claro, após alguns anos de estudo diário. Oh, língua…

Não há sociedade que resista e prospere desprovida de uma forte base cultural

Não há sociedade que resista e prospere desprovida de uma forte base cultural. Um país jovem é naturalmente instável. E um país que rompe com as próprias origens, ou as apedreja, tentando apagar-lhe o passado, caminha em direção ao colapso. A destruição cultural implica, necessariamente, a degradação moral em massa. Nada há de mais devastador a uma sociedade do que uma tentativa de “reescrever a história”.

Astrologia…

É com espanto que leio as conclusões de Jung e as linhas de Pessoa sobre a astrologia. Duas mentes modernas, duas mentes que tenho em tremenda estima. Modernas, e logo vejo atacados os preconceitos de um sujeito que cresceu no final do século XX, amestrado conforme a ideologia de seu tempo. A reação é excitar a curiosidade inédita, pelo desejo de não ser como os medíocres e tentar seguir o caminho dos grandes. Então me deparo com uma área que aparenta imersa nas mais terríveis confusões, quando não dominada pela filosofia mais barata. Muito bem! Dezenas de séculos credenciam a atenção. Mas que é que se pode ganhar disso tudo? Vá lá… o poeta era astrólogo.