A filosofia está saturada de vaidosos

Entupo-me de Cioran e percebo a enorme distinção daquele que se propõe a encarar as grandes questões frontalmente e com sinceridade. A filosofia está saturada de vaidosos cujas obras manifestam o interesse único em provar-lhes ao mundo a inteligência. Quando contrapostas, de um lado, a obsessão em provar falhas lógicas em sistemas alheios e substituí-las por um raciocínio “superior” e, de outro, a manifestação desesperada de alguém que, com todo o espírito, procura o alívio para questões que o atormentam, notar que há diferentes níveis de filósofos chega a ser um insulto. Há, isso sim, filósofos sérios e brincalhões.

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O dinheiro envilece a existência e emburrece

Está certo: o dinheiro envilece a existência e emburrece quando posto em primeiro plano. A geração de escravos voluntários mostra-se entre as mais estúpidas de todos os tempos. Dedicar o grosso da vida, o grosso do espírito e da energia ao acúmulo material é simplesmente infame. Mas aqui entra a questão perturbadora: como dosar, limitar o esforço, impedir a degradação e, conservando-se a independência, não ser completamente esmagado pelo meio?

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Mas donde? pr’onde?…

Mas donde? pr’onde? E logo o palavrório
Que não causa senão divertimento,
E faz contaminar o pensamento
Vestindo de importante o irrisório.

Que peça não comove o auditório,
Paixão que não servira de alimento
Pr’um único ato atroz, sanguinolento,
Tormento que excitou jamais velório…

Preocupação inútil, simulada,
Parece que aventar profundidade,
E adorna o verbo vão de seriedade…

O frívolo discurso envolto em nada
Posterga o que arrepia e quer porquê.
O que lateja e rasga é: para quê?

(Este poema está disponível em Versos)

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Gritando diante de uma tela

Tento concentrar-me numa leitura difícil e o vizinho, gritando diante de uma tela, esmurrando as paredes, pisando forte de um lado para o outro, não quer deixar. O texto é cristão, mística cristã. E ao invés de lê-lo, absorvê-lo, reflito se devo ou não perdoar o animal que berra sem parar. Irado, ele quebrará alguma coisa, tenho certeza. Pronunciou, em cinco minutos, todos os palavrões que conheço. Parece o lateral-direito do time ter feito qualquer bobagem. Gol do adversário. Socos, berros, novos palavrões. E o meu abafador de ruído somente abafa a porcaria do ruído. Devo perdoá-lo? Tento pensar e um insulto invade-me a mente. O animal arrisca uma parada cardíaca por nada, e o espetáculo perde a graça porque coloca meu quarto a tremer. Perco completamente o fio da narrativa e a paciência. Atiro o livro a qualquer canto e deixo que o juízo me convença: o “próximo” inviabiliza qualquer argumento cristão.

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