É incrível notar a acuidade de algumas observações de Jung quando aplicadas à conduta geral e os seus reflexos naturais numa sociedade. Quando percebemos que há uma busca por validação externa operando incessantemente e englobando mesmo os atos estritamente individuais, entendemos porque há um grau tão elevado de submissão ao meio — este, tido em massa como o árbitro soberano. Disso à exigência pública de uma conduta contra a própria vontade, — ainda que dissimulada, — sob pena de cadeia ou linchamento, não vai um palito. E os reflexos? Quão previsíveis! O homem social é amputado de personalidade; é uma marionete do comportamento coletivo. Basta que um imbecil suba a um palanque, convença uma claque, e então a massa infinita de ovelhas, por medo e necessidade, estará a abraçá-lo.
Detalhes, em arte, são válidos desde que tonificantes
Detalhes, em arte, são válidos desde que tonificantes de uma impressão imediata. Quando se limitam a esconder “tesouros secretos” são, se muito, inúteis. Sutileza e esmero numa composição de primeira impressão inócua configuram desperdício. A arte de não dizer tudo arrisca-se ao ridículo de não dizer nada; basta olharmos ao cinema…
Objetivo: palavra inventada por homens
Penso nas concepções artísticas de Poe e Tolstói e, súbito, ponho-me a rir. De um lado, a construção de uma beleza suprema; doutro, a transmissão de um sentimento ao leitor. Objetivos: aí está a graça. Não sei por que, começo a pensar em arte e vem-me à mente o universo cego, representação máxima do acaso. Penso em tudo, como conjunto, e enxergo o nada, o céu vazio, a indiferença, a exterminação certa e a improbabilidade de um fim. “Objetivo” é palavra inventada por homens que, como homens, tende a perecer. Estrelas brilham por nada, uma galáxia imensa pode simplesmente sumir. E acabo refletindo sobre o antiquíssimo “esforço inútil”. A beleza se esconde na certeza da derrota? A misericórdia exige a queda? Se nada mais me interessa, por que exatamente tenho a arte como valorosa, indutora do sentido? Parece-me tudo, sempre, conduzir às mesmíssimas questões…
Todo livro deveria conter uma etiqueta colorida colada à capa
Quando imagino a postura de Cioran diante de um papel e comparo-a com a de alguns artífices do entretenimento consagrados como best-sellers, penso que todo livro deveria conter uma etiqueta colorida colada à capa a indicar se a obra é séria ou trata-se de diversão, passatempo, brincadeira — talvez uma carinha feliz cumpriria bem o papel para estas. A sinceridade é dotada de um potencial agressivo que ao marketing convém evitar a todo custo. Quem é que paga para ser agredido? Certamente não o público mainstream. E, no mais, a classificação seria útil para que o leitor soubesse de quem poderia pedir qualquer satisfação, a quem seria visto como cliente e, portanto, quem estaria verdadeiramente interessado em sua satisfação. Proveitoso e facílimo seria identificar quem publica pela fama e quem risca o papel percebendo-se a sangrar.