Quero crer que a glória está no livre-arbítrio

Quero crer que está, no livre-arbítrio, a glória proveniente da guerra de fim conhecido. Através dele, e somente dele, é possível vencer — ainda que temporariamente, ainda que somente uma batalha… — a sinistríssima fortuna. Pensando desta forma, não consigo deixar de resumir o caráter qualitativo de toda a complexa e ambígua natureza humana num único elemento: a volição.

____________

Leia mais:

A representação viva de manifestações psicológicas contrárias

O grandioso, em literatura, envolve a representação viva de manifestações psicológicas contrárias. Grandes autores, naturalmente, estreitam-se e afastam-se de ideologias opostas, a depender do ponto de vista, porquanto o ser grande envolve a capacidade de apreender a realidade sob variadas perspectivas. Um grande autor jamais se lhe permitirá a obra viciada, previsível, e por isso jamais será enquadrável numa caixa ideológica sem milhares de ressalvas.

____________

Leia mais:

Seria infinitamente mais feliz fosse uma árvore

Seria infinitamente mais feliz fosse uma árvore. Corrijo: uma pedra — hoje árvores são abraçadas… — Pedras não escutam, não são incomodadas, requisitadas, não pagam impostos e, a palavra é exatamente essa, vivem em paz. Senão como componentes da paisagem, são invisíveis. E quem saberá dizer os limites de seu universo interior? A incapacidade de escutar — presumo; pois se escutam, jamais reagem… — é algo realmente invejável e superior. A fraca mente humana, tão vulnerável a sofrer distúrbios terríveis provenientes do ruído, que a submetem e calam-na em extrema facilidade, só tem a invejar a placidez da vida deste insigne ser rochoso…

____________

Leia mais:

Oculta, serpejando em quarto escuro…

Oculta, serpejando em quarto escuro,
Vai ela deslizando, compassada…
E a quietação fá-lo ter-se seguro,
O ser que dorme e não percebe nada…

Pois delicadamente ela rasteja
Por baixo do lençol, não faz ruído,
E como acariciasse, eis qu’ela enseja
Se enrodilhar no membro protegido.

Deleita-se a despeito do perigo
Enquanto sonha o ser inconsciente…
Pois quando acorda, o susto! O triste amigo

Vê-lhe em redor da perna uma serpente.
Sobressaltado em má sorte imprevista,
Agonizante e imóvel: eis o artista!

(Este poema está disponível em Versos)

____________

Leia mais: