É com ele que eu vou!…

Não há ironia assaz potente para expressar toda a alegria destas linhas, agora, envoltas em animadíssimos jingles. A verdade é que as palavras, estimuladas, já estão a dançar. Oh, linguagem, como comoves quando bem talhada! Futuro, trabalho, melhor, de verdade, de verdade, como a gente, diferente, diferente… A esperança é a mais nobre entre todas as nobilíssimas dádivas concedidas ao nobre espírito humano. A face, quando sorri em retorno à promessa, exibe a virtude da alma apta a confiar na irmã de bênção. E, juntas, em harmonia, são ambas predestinadas a edificar o Bem-Aventurado Empíreo Municipal!

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Os poderes infernais, de Carlos Drummond de Andrade

Outro belo soneto de Drummond:

O meu amor faísca na medula,
pois que na superfície ele anoitece.
Abre na escuridão sua quermesse.
É todo fome, e eis que repele a gula.

Sua escama de fel nunca se anula
e seu rangido nada tem de prece.
Uma aranha invisível é que o tece.
O meu amor, paralisado, pula.

Pulula, ulula. Salve, lobo triste!
Quando eu secar, ele estará vivendo,
já não vive de mim, nele é que existe

o que sou, o que sobro, esmigalhado.
O meu amor é tudo que, morrendo,
não morre todo, e fica no ar, parado.

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A grande arte exige os grandes temas

O estudo apurado da técnica artística incorre no grande risco de turvar a motivação da arte na cabeça do autor. A beleza cria-se, fundamentalmente, de uma aguda percepção e não de uma motivação abstrata. Se a estética escapa à compreensão do tíbio racionalismo, não é consequência que, despegada da experiência, represente qualquer coisa. O efeito expressivo é amparado pela técnica, mas jamais será potente se calcado em frivolidades: para ser grande, a arte exige os grandes temas.

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A rainha da procrastinação

Antipática ao trabalho, por vezes negando-o terminantemente, é incrível notar como a mente estimula-se a labutar pela procrastinação. Se não há motivo, encontra-o: quer porque quer adiá-lo, precisa adiá-lo imediatamente. Amanhã, depois: agora, não. E assim naufraga a produtividade… O que poderia ser feito, não é. O pouquinho que, somado ao longo de muitos dias, tornar-se-ia algo robusto perde-se na fumaça da ociosidade. Acho que a frase é de algum filósofo; senão, que vá de mim mesmo: há casos que, fatalmente, exigem violência.

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