A democracia acabará enforcada pelos democratas

O diagnóstico é antigo:

A maior desgraça da democracia é que ela traz à tona a força numérica dos idiotas, que são maioria na humanidade.

Tento imaginar o que Nelson diria presenciasse nossos dias de internet e redes sociais. Nas principais democracias do mundo, a liberdade de expressão já não é plena: há opiniões proibidas, há censura. A massa de idiotas aniquila tudo quanto a desagrada escutar. Nunca houve tamanha facilidade para que o ódio se organizasse e encontrasse meios de ação. As turbas digitais revoltam-se, empenham-se pelo juízo prévio de valor e logram, fatalmente, privar alguns do direito de falar. Destroem facilmente carreiras, reputações, trabalham com afinco imensurável pela ruína total dos objetos do seu ódio. O capital cede, é avesso à polêmica, arrepia só de pensar no detrimento da própria imagem. E a democracia não faz senão lhes validar a fúria, posto ser o regime em que maioria implica direito, denota razão. Cientistas sociais debatem: como barrar a ação do ódio organizado? Como impedir que a moral vigente, mais uma vez, sufoque metodicamente as manifestações dissidentes? Difícil… Muitos e muitos ainda serão honrados com as chamas da fogueira deste tempo. O ódio é o impulso humano mais potente, não cede enquanto não consuma a própria obsessão. Continuarão a odiar, odiar, odiar, até que a democracia acabe enforcada pelos democratas.

____________

Leia mais:

O homem faz sempre e necessariamente mau uso da liberdade

De Emil Cioran, em tradução livre:

O homem faz sempre e necessariamente mau uso da liberdade. Disso provém que todos os regimes que se fundamentam e afirmam-se nela estão condenados à ruína.

____________

Leia mais:

Expansões em choque

Miro-me os trinta e seis poemas. Saíram, isso é certo. Meses de trabalho árduo, mas saíram. Então reparo o imenso contraste entre as rajadas que, simplesmente, permiti se manifestassem. O moralismo que desgosto é-me nas linhas componente obrigatório — jamais o calarei, jamais neutralizarei uma dimensão de mim mesmo… Depois, a psicologia do desespero, os rompantes da mente inserida em corpo contrário à ação, perplexo da própria existência. E, finalmente, o cinismo, o escárnio, a expressão de alguém incapaz de se não atirar conscientemente no ridículo. Sigamos com o derradeiro…

____________

Leia mais:

Fadiga

Fadiga, esgotamento total. Sensação de ter visto todos os exemplos cedo demais. Condutas demasiado previsíveis, desinteressantes… Nada de novo, nunca. Repetição que começa a irritar. Desencanto absoluto, desejo de paralisar o tempo, negrejar todas as cores, anular a realidade…

____________

Leia mais: