O desejo de concordância

Poucos instintos são tão perniciosos às relações sociais e, especialmente, à personalidade do artista como o desejo de concordância. Em primeiro lugar, por ser esta uma manifestação da vaidade. Em segundo, pelas naturais implicações: discussões inúteis, antipatias gratuitas e fortalecimento do apego às próprias ideias. Tudo isso é veneno para alguém que deseja cultivar relações amigáveis e, pior, dar origem a uma obra artística. Conviver com o dissidente não é somente obrigatório, como o mundo é melhor por duas pessoas não pensarem igual. E quanto ao artista: que é que ele tem a ver com a opinião dos outros ou com a própria opinião? Desejar a concordância o tornará um egocêntrico, de antolhos, inclinado a usar da arte para adornar as próprias convicções. Como artista, inevitavelmente falhará, posto o desejo de concordância ser mancha que, em contato com a arte, impregna e não sai.

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O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde

Abri O retrato de Dorian Gray em grande expectativa. O motivo, ser Oscar Wilde uma das personalidades mais intrigantes da história. Lembro-me das palavras de Carpeaux: “Sua vida, foi obra de gênio; e ao gênio a sociedade sempre fez pagar caro a singularidade de sua natureza”. Abri o livro, pois, desejoso da manifestação do gênio. Encontrei. O retrato de Dorian Gray é romance que só pode ser escrito por um grande artista. A começar, pelo enredo: a história é instigante desde o primeiro ao último capítulo. Os três principais personagens do livro estão muitíssimo bem desenvolvidos; amigos, representam faces conflitantes de uma mente genial. A moral é posta à prova, a arte em evidência, as relações sociais em cheque e os dramas psicológicos a faiscar. Basil Hallward, como poucos, retrata a personalidade de um artista. Lord Henry Wotton é personagem com vivacidade impressionante. E Dorian Gray desenvolve-se em arco engenhoso traçado por Wilde. Sobeja na obra a coragem, a acuidade psicológica: o autor não escreve acorrentado, não teme a rejeição. E consegue, assim, expressar-se com sinceridade e potência, entregando personagens singulares e reais. Não há que dizer: Oscar Wilde continuará difamado pelos séculos dos séculos. Mas jamais deixará de ser o que foi: um grande artista.

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Conhecimento e juros compostos

O conhecimento equipara-se aos juros compostos. Destes disse Einstein “the 8th wonder of the world. He who understands it, earns it, he who doesn’t, pays it“. Em ambos os casos, a ascensão é atrelada ao tempo e se dá de forma exponencial, ou seja, maior a distância percorrida, maior a aceleração. Obstáculos escabrosos, com o tempo, tornam-se facilmente superáveis, e as possibilidades momentâneas jamais representarão as futuras. Há, é claro, a ressalva: quer no conhecimento, quer nos juros compostos, o avanço é condicionado à reinversão.

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Forçar o cérebro

Exercício extremamente útil: forçar o cérebro, chicoteá-lo. Digo e imagino-me diante dos originais latinos. De início, a sensação de esforço inútil; então a persistência, a obsessão: e as palavras, forçadas, preenchem-se de sentido. A técnica não é nova, muito menos original; útil desde os idiomas estranhos aos textos de essência abstrusa. O cérebro parece recompensar a insistência, trabalhar à base de pancadas, coação. E se, em seu fluxo vertiginoso de ideias, muitas vezes pode atrapalhar-nos, quando amarrado, compelido, trabalha com gosto a nosso favor.

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