Na vida cada sonho é uma miragem…

Na vida cada sonho é uma miragem
Irrealizável para além da mente;
Não se afligir é pôr-se, enfim, consciente
Que a cova é do futuro a suma imagem.

Maturidade em vida é ter coragem
A olhar nos olhos o vulgar presente;
Melhor o quieto, o triste, o que não mente
A si, e entende da vida a mensagem.

Aguarda-nos a todos uma tumba
Velada na necrópole do olvido,
Onde o silêncio é o eco que retumba

E a permanência eterna é obrigatória.
Nem mesmo o probo, o bom, sabe o vivido,
Terá na terra a mínima memória…

(Este poema está disponível em Versos)

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Quem não conhece uma língua estrangeira, não conhece a própria

A aula é de Goethe: quem não conhece uma língua estrangeira, não conhece a própria. Mas por quê? É assunto para centenas de páginas… O conhecimento de idiomas estrangeiros contribui de forma inestimável para o domínio da língua materna. Idiomas provenientes de uma mesma raiz alargam o vocabulário, aprofundam a compreensão das palavras, fortalecem o significado de radicais comuns, entregam ao estudante um arsenal de recursos sintáticos e expressivos aplicáveis ao próprio idioma. Idiomas de raiz diferente, por sua vez, desafiam o intelecto, forçam o cérebro a lidar com uma diferente organização da linguagem — ensinando a estruturar o pensamento de maneira distinta, — fortalecem a compreensão das classes de palavras, apresentando-lhes novas aplicações. Isso sem mencionar os ganhos de natureza cultural: o idioma é a manifestação da índole de um povo; estudar-lhe a evolução e suas particularidades é conhecer uma nova maneira de compreender e expressar a realidade. Por isso, a conclusão óbvia: a assimilação é dependente da comparação; apreende-se a essência de algo quando contraposto ao diferente. E, assim, são sábias as palavras do mestre: o conhecimento profundo do próprio idioma exige o conhecimento de idiomas estrangeiros.

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Exigências da formação intelectual

A formação intelectual exige, fundamentalmente, duas tarefas: estudar os grandes autores, e estudar autores com visões de mundo radicalmente conflitantes. De início, o óbvio: é questão de respeito à própria inteligência brindar-se com os grandes. Os clássicos devem ser lidos, estudados, absorvidos, integrados à personalidade de quem se pretenda intelectual. Então, com a base assentada, é possível almejar evolução. O passo seguinte é transformar a mente num violento campo de batalha. O intelectual precisa, necessariamente, do conflito, do choque de ideias: só assim é possível progredir. Ler autores conflitantes é entender a complexidade da vida, as variações nos mecanismos de percepção, é reconhecer e aceitar o ambíguo. Mais: conversar com mentes díspares, se sinceramente, não só alarga o conhecimento como impõe a humildade, escancara méritos onde dizem não havê-los, em suma, engrandece. Por isso é forçoso conviver, lidar com opostos, abandonar prejulgamentos, libertar-se das correntes do pensamento. O caminho contrário é repetir o conveniente, denegar as contradições e jamais evoluir. Deixar que as ideias rebentem livremente é deixá-las, à força, arrastar a mente à inteligência.

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Vencer ou sucumbir à morte

Parece, no fim de todos os tormentos, resumir-se a vida na seguinte questão: vencer ou sucumbir à morte? E a resposta, que não é senão a própria obra, entrega um tormento adicional (tormentos… nunca se esgotam!): o vencer a morte aparenta dependente de um fator externo incontrolável e sujeito à incerteza, ou seja, sujeito ao fracasso mesmo que injusto. Quer dizer: a maldita fortuna, ainda no fim de todas as coisas, ainda após todas as provações e mesmo que após respostas formidáveis, parece ter influência decisiva. E assim o impulso a amaldiçoar a vida afigura-se como irresistível.

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