Corrupção humana

Segundo Pascal, o homem está corrompido a tal ponto que nem o conhecimento está imune de falsificação. Se levarmos tal afirmação a sério, será forçoso que adotemos uma postura humilde em relação a tudo: teremos de duvidar de cada uma de nossas palavras e ter extrema cautela com qualquer coisa que se nos afigure como “convicção”. Trataremo-nos com certo desprezo, e amor-próprio será palavra impossível. É provável que evitemos o contato e nossa independência, caso se manifeste, fá-lo-á de forma comedida. Em resumo: seremos exatamente o contrário dos homens deste século.

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Convicções

As convicções nunca deixam de espantar-me. Quero dizer: já há muito que estudo, estudo e estudo e ainda assim não consigo formular uma única certeza. Em tudo quanto penso sempre encontro exceções… Nada, nunca encontrei nada de absoluto e irrefutável, ainda que procurando como um doente obsessivo. Pois que chegam a mim, de todos os lados, resoluções quanto à vida, respostas convictas às perguntas mais complicadas, que mais escapam a qualquer tipo de razão, definições irrefutáveis sobre aquilo que ultrapassa todos os limites… tudo isso envolto numa simplicidade espantosa. Não posso deixar de notar que toda afirmação convicta carrega uma empáfia que a mim é insuportável. Por isso me não identifico, definitivamente, com nenhum que julgue possuir “respostas” de nenhuma espécie. A mim, a reflexão só prova a impossibilidade de obtê-las em definitivo. Não desconsidero, talvez, a minha própria falta de capacidade… Mas julgo os fenômenos mais interessantes se não resumidos em meia dúzia de sentenças.

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Julgamento: ato insuportável!

Nada me é mais insuportável que o julgamento! Como, desde há muito, percebi que não posso deixar de fazê-lo — ainda que de forma impessoal, — aprendi a cultuar o silêncio. Silêncio que, a aparentar exteriormente a paciência e serenidade, implica uma interminável guerra interior. Odeio o julgamento e, ainda assim, julgo o tempo inteiro. Aniquilo-me quando me vejo a condenar condutas, e condeno todas, principalmente a minha. Pudera eu enforcar esses rompantes terríveis do juízo! Mas não há fim, nem sossego, e considero-me vitorioso por conservar um aspecto mínimo que remeta à humanidade.

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O cristão comum

A despeito de frequentar os cultos, festas, participar ativamente da comunidade, publicar provérbios e mensagens apologéticas nas redes sociais, não vejo uma única distinção de conduta do cristão comum perante o resto das pessoas. Está, claro, registrada a prescrição de Jesus quanto à conduta, mas quantos a seguem? Penso que o cristão, necessariamente, deveria diferir dos demais, caso contrário ser-se-ia cristão por inércia. Vejo isso, por exemplo, em islâmicos. E que faz, em nossos dias, o cristão comum? Canta à plena voz durante o culto? Paga o dízimo? Mesmo os líderes: em que moeda pagam pelo título de autoridade espiritual? Pergunto-me pois, engraçado! Acabo de ver um pastor evangélico, trajado em social, entrar num boteco, comer um salgado e seguir sua vida. Senti, subitamente, que eu mesmo poderia pegar um microfone e, bem vestido, pregar à meia dúzia de fiéis.

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