Diplomas e conhecimento

Acho graça do culto ao diploma. Minha mente voa… Fico imaginando daqui a quanto tempo exigirão diploma para atletas: “Rapaz, antes de bater o recorde mundial dos 100 metros rasos, vá atrás do teu diploma de velocista!”, ou para padeiros: “Não, não… isso que fizeste não é um pão. Para fazer um pão precisas, primeiro, de um diploma de padeiro”. Acho graça porque claramente o sistema de ensino brasileiro colapsou, enquanto há gente a que agrada humilhar os outros calcando-se em diplomas. Hoje, um diploma não vale muita coisa… Qualquer um forma-se, qualquer um compra um diploma. Sumariamente, a diferença de um engenheiro para um cobrador de ônibus, hoje, é o bigode. E tenho um diploma de engenharia escondido em algum lugar de minha casa; falo, pois, com a autoridade de um diplomado que um diploma não tem relação necessária com conhecimento, somente diz que o diplomado obteve média na somatória de provas e trabalhos e compareceu na frequência mínima exigida pela instituição. Conhecimento é outra coisa.

Natureza…

Não sou um entusiasta da natureza. (Pedras!) Sei que, para muitos — todos? — a palavra natureza inspira uma paisagem silenciosa, pura como uma fresca nascente a deitar no tranquilo ramalhar das árvores sob o brando movimento das águas. A mim, não. Quando penso em natureza, minha mente associa — e me não pede permissão! — primeiramente, à imagem de uma mata fechada; em seguida, à sensação de meus pulmões sendo insuflados de ar puro e, bruscamente, ouço um zunido insuportável de mosquitos, que se transforma no silvar agressivo de uma cascavel. Assustado, sinto um arrepio. Sim, sim: minha casa é a poluição e o cinza.

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Sobre a autoajuda

Há algumas coisas que considero impossíveis, por exemplo, Donald Trump fantasiado de Buda em uma festa carnavalesca. Outra: um autor de autoajuda com um livro de Dostoiévski nas mãos. E não só de Dostoiévski, mas de Shakespeare também: escrever autoajuda para alguém que leu Shakespeare é uma absoluta impossibilidade. Eu poderia continuar estendendo a lista de autores, mas resumo: os clássicos; nenhum autor de autoajuda leu os clássicos. E por que isso é tão óbvio? Porque há uma incompatibilidade total entre o que se encontra nos clássicos e o que se encontra em livros de autoajuda. Fico a refletir: há uma herança intelectual transmitida através dos séculos que deve ser respeitada e absorvida por alguém que tenciona dar lições aos outros. Se ainda falamos de Shakespeare, é porque há em Shakespeare algo valioso, perene, comum à toda a humanidade. E diria até que, para alguém que quer conhecer minimamente o ser humano, ou ser minimamente culto, os clássicos são imprescindíveis. Repito, pois, em minha obsessão: dez obras, não mais; eu duvido que qualquer autor de autoajuda tenha lido dez obras quaisquer entre Shakespeare e Dostoiévski. Pode ser que não tenha entendido nada? Não creio. Pode ser que o autor viu na autoajuda o dinheiro fácil? Talvez… Mas aqui, estou à vontade para cometer a desfaçatez da generalização: um livro de autoajuda não é intelectualmente relevante — desculpem-me, mas não é.

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