O ateísmo conduziu o homem moderno a uma desorientação…

O ateísmo conduziu o homem moderno a uma desorientação tão extrema que resgatar as noções mais básicas de sua condição humana é obra que já se não completa em umas poucas gerações. O estado é calamitoso a ponto de que nem a literatura pode prestar-se a uma retratação realista e integral da sociedade hodierna, sob pena de ser desabridamente rejeitada pelas gerações futuras por ter extrapolado o absurdo mesmo se consideradas as possibilidades ficcionais. Esta é uma situação talvez inédita, em que é preciso ignorar o grosso da realidade para se fazer literatura duradoura. Há coisas que não se dizem numa mesa, e há coisas que não se escrevem.

O que arrasa o orgulho dos acadêmicos

O que arrasa o orgulho dos acadêmicos é ter de constatar, contrariados, que uma vida dedicada aos estudos fora da academia é infinitamente mais proveitosa à aquisição de conhecimento em praticamente qualquer área. É constatar que, não havendo de limitar-se às diretrizes estipuladas pela academia, o estudante emprega o tempo muito melhor. Com os anos, os resultados tornam-se escandalosamente evidentes e evidenciam, também, a natureza da motivação inicial.

Chega um momento em que cansa…

Chega um momento em que cansa a crítica social e cansa uma literatura inteiramente voltada a tipos inferiores. Chega um momento em que aflige, tortura a ausência da representação de um modelo contrário, um modelo superior que instrua e inspire pelo exemplo, ainda que se possa taxá-lo de utópico ou incompleto. A verdade é que, neste sentido, toda literatura pode ser taxada de utópica e incompleta, isto é, de criação imaginária sob uma ótica individual que necessariamente não pode senão abranger uma parcela da realidade. E não se poderão esquivar, nem a literatura, nem o autor, de que tal parcela seja considerada, para ambos, a mais importante.