Toda relação virtuosa que pode haver…

De Leopardi:

Chi ha disperato di se stesso, o per qualunque ragione, si ama meno vivamente, è meno invidioso, odia meno i suoi simili, ed è quindi più suscettibile di amicizia per questa parte, o almeno in minor contraddizione con lei. Chi più si ama meno può amare.

Em verdade, toda relação virtuosa que pode haver entre dois seres humanos fundamenta-se naquilo que contraria o amor-próprio, isto é, na modéstia, na benevolência e no despego de si. Sem tais virtudes, nada feito, e as relações não serão jamais algo além de um terreno de interesses e disputas cujos envolvidos ganham muito menos do que podem imaginar.

As sociedades têm de revalidar os fundamentos…

Periodicamente, num espaço de poucas gerações, as sociedades têm de revalidar os fundamentos legados pela tradição, e não o fazem senão passando pelas mesmíssimas crises que resultaram na necessidade de sua fundamentação. O objetivo, pacificar entendimentos e evitar novas crises, é atingido apenas até que morram aqueles que o guardaram na memória, ou nem isso. A história, neste aspecto, só demonstra sua falência a uns poucos intelectuais.

O escritor cuja vida é involuntariamente invadida…

A despeito da recomendação geral, o escritor cuja vida é involuntariamente invadida e transtornada pela política não tem o direito, mas o dever de inserir política em sua obra literária. Isso é, em suma, uma obrigação para com as gerações futuras, às quais tem de transmitir o sabor de sua experiência pessoal. Não fazê-lo é negar-se. Um preso político, pois, ainda que contrariado, perdeu o direito de calar-se a respeito da opressão sofrida, e é justamente a ele destinada a missão de dar travo político às linhas, pois é justamente ele que tem como amparo a circunstância que todos os outros não têm.

É verdade que o estudo muitas vezes desvenda…

É verdade que o estudo muitas vezes desvenda a complexidade de matérias as quais o homem comum nem suspeita serem complexas. Essa descoberta, contudo, embora com justeza possa reclamar cautela, jamais deve ter efeito paralisante sobre o espírito, que afinal terá de se decidir. O mesmo ceticismo empregado por alguns como ferramenta indutiva da melhor escolha, é por outros empregado como escudo — eficacíssimo — para uma inata incapacidade de escolher.