A história da literatura assemelha-se a um pêndulo que ora inclina-se ao novo, e ora retorna ao antigo. Precede o primeiro movimento um aborrecimento com as velhas formas, os velhos modelos e as velhas regras, já o segundo se dá após a constatação de que o novo criado é pior do que a prática antiga, que agora parece bela e rica como nunca. Em ambos os impulsos, há algo sincero e algo despropositado. A literatura sempre se renova e, se grande, jamais se cria do zero.
Grande parte dos obstáculos à criação…
Grande parte dos obstáculos à criação são superados no momento em que se rompe a inércia; daqui em diante, o trabalho é mais corrigir, mais aperfeiçoar que propriamente criar — ou, ao menos, assim parece, o que dá no mesmo para a mente que trabalha. O movimento, após iniciado, confere uma fluidez que como induz, se não automatiza a sequência, tornando absolutamente mais fácil o prosseguir, em comparação com aquele medonho iniciar. É, portanto, forçar o início, para não se permitir jamais engolido pela inércia.
Após assentar um processo criativo eficiente…
Após assentar um processo criativo eficiente, o que deve imediatamente fazer o profissional da criação é encontrar uma maneira de dar vazão às suas manifestações mentais espontâneas, ou melhor, deve encontrar uma maneira de transformá-las, mecanicamente, em algo artisticamente aproveitável, para que evite não somente o perdê-las, mas perder-se em meio à confusão de uma miríade de ideias imprecisas e desconexas, cujo mirá-las mais facilmente o conduzirá à paralisia do que à ação.
“Cosa odiosissima è il parlar molto di se”
É verdade que, como bem notado por Leopardi, “cosa odiosissima è il parlar molto di se”. Contudo, não se pode negar que a poesia lírica, em primeira pessoa, para além das ótimas possibilidades rímicas proporcionadas pelos verbos, alcança um grau de aproximação entre eu lírico e leitor que dificilmente se consegue de outra maneira. Havendo ou não identificação entre ambos, há algo neste tom meio confessional que retira, ao menos aparentemente, parte da artificialidade da expressão, tornando-a mais autêntica, e portanto mais potente. Como Leopardi, faz bem evitar essa desagradável primeira pessoa; como Leopardi, afinal se há de assumi-la em nome da expressão.