Aquele que quer ensinar

Aquele que tem algo a ensinar e quer ensinar precisa compreender que, para efetivar seu desejo, é necessário que haja, também, alguém que queira aprender. É este um fato: o melhor professor não é capaz de suplantar algumas das barreiras possíveis de serem levantadas por um mau aluno; já o bom aluno consegue aprender algo mesmo do pior professor. Disso se percebe que o aprendizado, em suma, é dependente mais do aluno que do professor, limitando-se este a facilitá-lo ou dificultá-lo, estimulá-lo ou desestimulá-lo. Assim é, não importando quão grande seja a vontade ou o conhecimento do professor.

Uma exposição lógica cristalina

Ocorre algo inexplicavelmente engraçado quando nos deparamos com uma exposição lógica cristalina, perfeita e irrefutável, que não exerce nos ouvintes o mesmo brilho e encanto que radia da palavra do expositor. Vem à mente Tomás de Aquino… Que dizer? Infelizmente, a lógica só pode impressionar aqueles acostumados a praticá-la ou, no mínimo, aqueles capazes de compreendê-la. A obra de Tomás de Aquino é uma realização impossível. As provas que apresenta, por exemplo, sobre a necessidade da existência de Deus, não poderiam ser melhor ou mais logicamente formuladas, nem expostas com maior clareza por uma cabeça humana cujo instrumento expressivo é a linguagem. E, ainda assim, são inúteis, absolutamente inúteis e ocas à maioria dos mortais.

As antíteses do pensamento dominante

É mesmo um fenômeno impressionante este de brotar sempre as antíteses do pensamento dominante, precisamente quando este se acredita soberano, acabando surpreendido com uma violência proporcional ao esforço realizado por consolidá-lo. De modo idêntico surge o gênio quando o ambiente parece torná-lo impossível. E quando vemos que, após algumas décadas, ocorre o impossível e o ínfimo suplanta o descomunal, ficamos a pensar nestas tão frequentes coincidências…

Passam sem deixar legado…

É um fato espantoso este de que, no Brasil, os poucos grandes intelectuais, os verdadeiramente grandes, passem sem deixar legado. Talvez seja algo único a nível mundial. Em todos os países onde se pensa e se escreve, é possível traçar precursores e sucessores, é possível colocar numa linha do tempo os grandes nomes e seus influenciados, é possível, em suma, notar que um grande espírito ecoa e ecoa vistosamente após morrer. No Brasil, não. No Brasil o grande intelectual desaparece tão espetacularmente como surge. Nem um Nelson Rodrigues, de sucesso estrondoso e inédito, foi capaz de transmitir algo de si a outra cabeça pujante. Morreu como morreram os outros: enterrando consigo o gênio criador.