Grande parte do constrangimento verdadeiro…

Grande parte do constrangimento verdadeiro ao qual o homem se submete é eliminado tão logo ele aprenda a dizer não. Porque, em suma, o constrangimento não é senão um protesto interior, é o íntimo a manifestar desacordo para com as condições externas, o remorso pelo não engolido. Experimenta-o, portanto, todo aquele que se trai. Neste sentido, antes ser louco e ter coragem de assumir-se, negando com firmeza tudo aquilo que não convém.

Embora a poesia bucólica possa…

Embora a poesia bucólica possa, com razão, parecer chatíssima, por vezes intragável, o sentimento que articula é decerto autêntico e belo. E ainda que os versos cansem, quase sempre por se estenderem mais do que deveriam, faz muito bem meditar a imagem que deles brota. O mero imaginar a satisfação plácida e perene que se pode extrair de uma vida centrada na simplicidade e na comunhão com o meio é algo positivo, pois enriquece o imaginário com uma possibilidade tangível que o mundo quase sempre se esforça por esconder.

Lembrar que as grandes mudanças…

Lembrar que as grandes mudanças não ocorrem todos os dias é o conselho mais óbvio e prudente para aquele que se acostumou a agir apostando no improvável. Porque, em suma, não há razão para que o fracasso previsível se converta em frustração. É preciso agir pelo agir, e deixar que suceda o que tiver de suceder. Assim, blinda-se contra o incontrolável e retira-se proveito de onde seguramente se pode retirar.

A vida é sempre mais interessante…

A vida é sempre mais interessante quando se arrisca, e se vive consciente de que agir é arriscar. Mas ocorre, às vezes, que a má sorte é tanta, que os sucessivos baques vão se acumulando de forma insuportavelmente decepcionante, e logo se perde aquele mínimo de esperança sem o qual não se pode arriscar. Tal desânimo é a morte do espírito, e é sem dúvida muito mais proveitoso passar a vida como um louco iludido do que a ele sucumbir; pois o louco ao menos age, e de sua ação se pode retirar algo de bom.