Profetizou Dostoiévski…

Profetizou Dostoiévski, e hoje o exibicionismo entranhou-se nos costumes de tal maneira que o não praticá-lo é escandaloso. O maior mal derivado deste comportamento é a noção comum de que aquilo que não é exposto, não é; que para ser, tem de ser compartilhado. E então se dá aquela velha história de que a mentira, impulsionada pelo crédito, torna-se verdade: aquele que nela acredita acaba, de fato, sufocando a sua dimensão interior.

Tal como o ato público mais vale…

Tal como o ato público mais vale por seu caráter educativo, o mais que merece é um atestado de educação. Para além disso, já se entra no terreno da vaidade que, quando não aprisiona, corrompe. O alarde é sempre vicioso, e o bem que se faz alardeando se faz com mais mérito em silêncio. Só com muito esforço se consegue preservar a sinceridade do ato empregando-o como instrumento para a obtenção de aprovação social.

O tédio, a lassidão e os vícios que deles decorrem…

O tédio, a lassidão e os vícios que deles decorrem só se dão quando não se executa algo para o qual o espírito se volta motivado. Como não se pode fazê-lo o tempo inteiro, todos experimentamos algo destes vícios. Contudo, há uma diferença enorme entre aqueles que diariamente exercem algo motivante, e que portanto lhes suga a atenção e o interesse, e aqueles que não o fazem. Estes acabam como que se deixando conduzir por impulsos automáticos, num ciclo que não pode senão produzir o tédio mais incômodo e nocivo. Privam-se, pois, desta delícia que é o entusiasmo por alguma finalidade, que é direcionar a ela o espírito cheio e experimentar a sensação de que o tempo foi bem aproveitado. A própria vida, como por mágica, torna-se estimulante.

O que mais distingue o ódio…

O que mais distingue o ódio é seu caráter obsessivo, permanente e insaciável, que não se contenta senão com a destruição completa e terminante de seu objeto. Assim que o ódio, uma vez despertado, é como a chama que não se pode extinguir. Pelo motivo que seja, aquele que o desperte faz melhor em desistir de qualquer reconciliação. Se alvejado pelas massas, é bom que esteja consciente de ter-se metido num certame sem fim.