Se parece incerto o futuro dos livros…

Se parece incerto o futuro dos livros de papel, para não dizer estarem eles, decerto, com os dias contados, não há como não proceder no raciocínio e imaginar as bibliotecas como relíquias de um passado distante. Formá-las e mantê-las, portanto, apenas colecionadores. Este simples fato, embora encubra o rol de facilidades conferidas ao leitor comum pela modernidade, não pode inspirar bons sentimentos. Um livro como uma antiguidade… Que dizer?

No Brasil, o normal é que o cidadão médio…

No Brasil, o normal é que o cidadão médio passe a vida adulta inteira sem ler uma única obra de ficção. Isso não pode ser normal, senão numa sociedade culturalmente morta. Nenhum escritor brasileiro, é seguro dizer, exerce hoje a mais insignificante influência na sociedade, a despeito do que o nome de algumas ruas e monumentos pode sugerir. Não há uma única obra literária cujos personagens, ou cuja lição moral, estejam presentes no imaginário coletivo, e portanto o fato mais assombroso deste Brasil de hoje é não haver nele nenhuma base cultural que sirva de alicerce e patrimônio comum. É uma tragédia não somente educacional, mas humana.

É difícil dimensionar quão medíocre…

É difícil dimensionar quão medíocre tem de ser o homem para não apenas adequar-se, mas tomar como sua uma ideia concebida por meia dúzia de burocratas, que confronta diretamente aquilo que é verdadeiramente seu. Uma ideia, às vezes inédita na história humana, às vezes grosseiramente estúpida, inequivocamente disparatada e infamante, cuja aplicação envolve uma drástica e súbita mudança comportamental, cujo efeito prático é aviltar o passado e romper uma longa e honradíssima tradição, mas uma ideia que mesmo assim é engolida! Tal sucesso parece denotar que uma sociedade até pode ser destruída fisicamente por um agente externo, mas corromper-se, isso só se permite voluntariamente.

Às vezes é muito difícil detectar a falsidade…

Às vezes é muito difícil detectar a falsidade quando se analisa apenas palavras; mas é sempre possível presumir quanto ganha o emissor em proferi-las. Noutras palavras: é sempre possível dimensionar-lhes o impacto em seu interesse pessoal. Nada disso é novidade; contudo, este exercício pouco praticado é ótimo para classificar aqueles que demandam cautela, e aqueles em cuja autenticidade do discurso se pode confiar.