O impressionante do hábito é acostumar a mente a tarefas difíceis, fazendo com que pareçam quase, quase fáceis; e, mesmo que não chegue a tanto, trivializa o fazê-las, algo por si só extraordinário. Psicologicamente, habituar-se a fazer algo é fazê-lo com menor esforço, como ligando um modo de execução automático. E só é possível notar o quão benéfico, o quão poderoso é o hábito ao rompê-lo e, em seguida, tentar fazer o que antes se fazia com naturalidade. Quase sempre, menor que o esforço necessário para retomá-lo é aquele necessário para desistir.
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Frequentemente o que motiva a misantropia…
Frequentemente o que motiva a misantropia é não a total repulsa pelo que há de mau no homem, mas uma divergência de interesses. Dizendo desta forma, parece pouca coisa; mas há divergências que, por tão completas, fazem com que o contato seja sempre estorvo, sempre perda de tempo, quando não aborrecimento. E então torna-se penosa a busca por um ponto de contato sabidamente inexistente. Sem ele, não há relação humana possível, e se não pode havê-lo, buscá-lo resume-se, como diz a expressão popular, a dar murros em ponta de faca.
Tornou-se corriqueiro dizer da preguiça…
Tornou-se corriqueiro dizer da preguiça o principal vício do caráter brasileiro. Nada mais falso! Este posto pertence à maledicência, e a uma maledicência suprema e sui generis. No Brasil, tal vício não remonta como noutras bandas simplesmente à inveja. A maledicência, aqui, começa pelo hábito, pelo impulso incontrolável, inato e cotidiano de falar da vida alheia, algo desde logo detestável. Disso para maldizer, contudo, há uma distância que só pode ser preenchida por uma infâmia mais profunda: a inveja, sim, mas também a covardia, a necessidade de aceitação, a mesquinhez desmedida, a ausência de personalidade, como muitíssimo bem retratado por Orígenes Lessa. Talvez seja mais simples colocar a questão da seguinte maneira: o maldizente brasileiro não deseja as qualidades do objeto de seu maldizer; ele deseja, pelo contrário, que este as perca e desça ao seu nível miserável; maldiz, pois, não por um “querer valorizar-se”, mas para amesquinhá-lo, algo só possível num espírito que desceu ao mais baixo entre os círculos da mediocridade.
O século XX não parece ter sido suficiente…
O século XX não parece ter sido suficiente para demonstrar o risco da politização da filosofia, nem os desastres decorrentes da interpretação do “ato” como ato político, ou da “responsabilidade” como princípio que pleiteia o indivíduo como agente coletivo. Persiste o esforço para desvirtuar o pensamento e empregá-lo como pretexto e recurso nesta fábrica moderna de ativismo, a despeito de comprovadamente só produzir destruição. É lamentável, mas não parece ser com menos ativismo que se poderá combater o ativismo atual.