Todas as motivações artísticas são fugazes…

Todas as motivações artísticas são fugazes, senão aquelas que remontam ao reconhecimento verdadeiro do valor da experiência e da nobreza em empenhar-se por representá-la em obra que ficará quando o tempo as consumir. Ser artista, em suma, é ter a arte como algo pelo qual se justifica o esforço de uma vida. Isso, é verdade, costuma se dar somente naqueles que, profundamente impactados, despem-se da vaidade para reconhecer em outro o modelo daquilo que desejam ser: num rasgo de humildade, convertem o agradecimento em motivação.

É mesmo um milagre isto que frequentemente…

É mesmo um milagre isto que frequentemente se observa na construção de poemas, quando às vezes se troca uma única palavra, se apara esta ou aquela aresta, e um todo sem graça, repetitivo, banal, muda como que completamente de caráter, e a expressão, antes frustrada, parece enfim satisfazer a intenção inicial. A lição desta experiência é que o poeta deve prosseguir nos momentos em que a criação desagrada, deve esforçar-se por dotar o poema ao menos de uma estrutura coesa, estrutura fundamental para que os brilhantes e às vezes inesperados detalhes possam sobressair.

De um autor tolera-se tudo…

De um autor tolera-se tudo, salvo a desonestidade. Falhar neste ponto é anular tudo quanto se produz. Como leitores, a mera sensação de que há numa obra intenções camufladas e que estamos a ser enganados é motivo suficiente para que a atiremos para longe; afinal, como fazer de bom grado papel de palhaço? Se não podemos, salvaguardados pela sinceridade do autor, dar-lhe o crédito necessário para uma leitura proveitosa, o melhor é abandoná-lo. Há, decerto, uma infinidade de outros autores que cumprem este requisito e têm muito a nos ensinar.

A delícia na escolha das rimas

Em meio a agruras intermináveis, não há negar que o fazer poético guarda certa delícia na escolha das rimas, na escolha e na posterior constatação de seu efeito. Não importa o quanto se mecanize o processo, a descoberta de uma rima inesperada é sempre prazerosa e estimula sobremaneira, chegando a tornar-se um como vício que não faz senão mais e mais atrelar o poeta à linguagem. Afinal, é um vício que acaba produtivo e, uma vez experimentado, impressiona a indiferença com a qual alguns poetas o repeliram.