Estilo é abundância em recursos expressivos

O objetivo de todo grande artista deveria ser erigir, a longo prazo, um monumento complexo e multifacetado. Por isso artistas menores são os que, irritantemente, só fazem repetir os mesmos processos. Fazê-lo, a buscar ênfase numa mesma ideia, numa mesma impressão ou na evocação de um mesmo sentimento, não é, como alguns supõem, demonstração de estilo, mas evidência de horizonte criativo limitado. Estilo é expressividade, potência, concisão, ritmo… Estilo é abundância em recursos expressivos, exatamente o contrário da capacidade do artista em repetir à exaustão os mesmíssimos processos.

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O grande estilo exclui também o que é agradável

Palavras de Nietzsche:

A grandeza de um artista não se mede segundo os “belos sentimentos” que ele desperta: só as mocinhas acreditam nisso. Mas segundo a intensidade que emprega para atingir o grande estilo. (…) Não desejaria desapreciar as virtudes amáveis, mas não se concilia com elas a grandeza de alma. Nas artes, o grande estilo exclui também o que é agradável.

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Períodos curtos e ritmo

Folheio alguns manuais de escrita, leio artigos de estudiosos das letras e percebo uma certa obsessão com os períodos curtos enquanto formadores de estilo. Não nego: períodos curtos, de fato, agregam dinamismo a qualquer texto. Mas estilo é um misto entre expressividade, concisão e ritmo, e se podemos dizer que períodos curtos dinamizam, os longos, por sua vez, aprofundam. Vamos ver: Nelson Rodrigues. Esse mestre, em especial em suas narrativas de ficção, lançou mão com extrema perícia dos períodos curtos. Entretanto, temos de pensar: como são os romances rodriguianos? Logo veremos que Nelson, propositalmente, imprimiu dinamismo às narrativas, posto os enredos se lhe desenvolvessem em progressão acelerada, gerando apreensão e expectativa. É uma técnica, instiga o leitor. Mas Nelson sabia, como poucos, imprimir ritmo aos seus textos, e não são raros os períodos em que o mestre divaga, se estende, diluindo a tensão germinada em períodos precedentes. Vejamos agora o outro lado: penso em Dostoiévski, Thomas Mann, Hermann Broch. Que seriam esses autores sem seus períodos extensos? Ou antes: como imprimir profundidade na narrativa sem se servir de parágrafos robustos e longas construções? É possível? Evidente… mas é inegável que seja esta uma técnica apurada. Tudo é uma questão de perguntar-nos: o que desejamos escrever? Uma narração objetiva? Descrever a sequência de uma ação? Ou afundar uma personagem numa reflexão? Evocar o devaneio no leitor? São objetivos diferentes. E se, como tenho lido mais de uma vez, períodos longos podem sugerir afetação, provocar enfado, sobejar detalhes fúteis, sem dúvida uma narrativa desenvolvida exclusivamente em períodos curtos soará como rasa, entrecortada e banal.

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Preceito simplíssimo

Vejo-me a produção avultando, a obra destes dias tomando corpo e, sistematicamente, os progressos aparecendo. Foram-se já 25 mil palavras que saíram leves, — por favor, não me lembrem da revisão… — de setecentas a mil por sessão de trabalho, com dias bons — têm sido maioria — somando duas sessões diárias, sem maiores problemas com o enredo traçado, os personagens tomando dinamismo, tudo correndo muito bem… Vejo que tudo isso é decorrente de um preceito simplíssimo: sentar e escrever. Se perco a manhã, paciência, mas a noite jamais falhará. E se me vejo indisposto, novamente paciência, mas tenho de escrever, porquanto escrever é-me prioridade inarredável. Assim consigo progredir, encontro-me em pouco mais de vinte dias com quase metade de um volume escrito — sei, sei, ainda não revisado… — e tudo parece caminhar cada vez melhor. Não sei em que nível a experiência me porá a produtividade em alguns anos, mas, por ora, sinto-me com manifesta satisfação.

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