O verdadeiro artista

Semanas, talvez anos de meditação, trabalho árduo, recolhimento e esforço psicológico intenso para dar luz a uma obra que não fará muito mais do que lhe expor toda a fragilidade e imperfeição: eis a realidade do verdadeiro artista. Lidar com o retorno financeiro mínimo e quase sempre lhe julgar os esforços não recompensados. Ademais ver as críticas, em sucesso ou fracasso, marcando-lhe a presença obrigatória. Como explicar? Quem trabalharia diante de tal sorte? Publicar uma obra é não menos que a exposição total. E se assim concluímos, será forçoso adicionar que o verdadeiro artista, o que se esforça por gravar-lhe as impressões e sentimentos em obra artística, seja ela qual for, podem faltar-lhe as demais qualidades, mas não esta: a coragem.

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Motivação reversa

Finalizo, após longo dia de trabalho, o enredo de meu segundo livro. Tenho, agora, trinta contos finalizados, em volume já revisto, e dezesseis poemas prontos para publicação. O trabalho destes dias é um romance que finalizarei nos próximos meses. Definido o enredo, assusto-me: horrível! Horrível e frustrante… Sinto, de antemão, repugnância pelo que me porei a escrever e meu desejo sincero é atear fogo a tudo quanto escrevo, desistir imediatamente da empreitada que me tomará um tempo enorme, um esforço psicológico descomunal e noites amargas pensando no que escrevi. Porém percebo que, se o fizer, já me não sobrará razão para acordar. Vejo rindo para mim esse sarcasmo terrível e, sabe-se lá de onde, vence-me um estranho sentido de dever que, incrivelmente, imbui-me uma motivação inabalável. Desgostoso, encontro-me dependente e refém deste dever.

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O talento é uma longa paciência

Algumas palavras interessantíssimas de Guy de Maupassant, em minha tradução do francês:

Mais tarde Flaubert, quem às vezes via, tomou afeição por mim. Atrevi-me a enviar-lhe alguns ensaios. Ele leu-os gentilmente e respondeu-me: “Não sei se terás talento. O que trouxeste a mim prova certa inteligência, mas não se esqueça disso, jovem, que o talento — nas palavras de Chateubriand — não é senão uma longa paciência. Trabalhe.”

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O fundamento da literatura

Charles Bally, linguista suíço, faz uma reflexão virtuosíssima em seu Traité de stylistique française. Está ele exaltando a importância da língua falada, com toda a sua carga subjetiva, para a linguagem literária: diz a língua literária alimentar-se e rejuvenescer-se da língua falada. Em seguida, diz o prazer estético derivado da forma literária estar diretamente relacionado com a língua falada, uma vez que tal prazer não é senão a captação de uma “deformação sublime” operada pelo artista, que só é percebida através da comparação. Reforça Bally que a emoção, a qualidade das ideias ou sua organização jamais foram suficientes para consagrar uma obra literária, não nos permitindo citar uma única obra-prima que lhe obteve a consagração abstendo-se da forma. Charles Bally então conclui, em outras palavras, que o dia em que não houver a forma, e não houver o contraste entre a língua falada e a língua literária, não haverá mais língua literária, e a literatura estará morta. Excelente, excelente! Agora analisemos a progressão da poesia e da prosa ao longo dos séculos e tiremos nossas conclusões…

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