A abordagem de Ortega y Gasset para o problema…

A abordagem de Ortega y Gasset para o problema da circunstância é um dos lances mais lúcidos da filosofia moderna. Quer dizer: a noção de que não há revoltar-se contra ela, mas integrá-la, ou ao menos esforçar-se de contínuo por integrá-la na personalidade, algo que não se dá senão aprendendo aquilo que ela tem para ensinar. Tal problema, em verdade, intensificou-se à medida que se popularizou o voltar os olhos para dentro, um ato que, se radicalizado, acaba por repudiar a realidade exterior. Acontece que este repúdio nunca alcança os efeitos desejados, resultando apenas em distúrbios e conflitos sem solução que não passe pela aceitação de que a circunstância é, sempre, elemento inalienável do ser.

Condição e necessidade

Viver é estar em condição de fazer algo, mas é também a necessidade de fazê-lo, o que é racionalmente confirmado e admitido pela escolha de continuar vivendo. Só se vive porque é preciso agir, e sem essa noção primária nada de verdadeiramente grande se pode fazer.

O que mais sofre tende a tornar-se o mais forte…

O que mais sofre tende a tornar-se o mais forte, o mais desiludido tende a tornar-se o mais prudente, o mais enganado tende a tornar-se o mais prevenido. Em todos estes casos, porém, o benefício não se concretiza sem que haja um esforço pessoal por transformar a experiência desagradável, que começa por aceitá-la e compreendê-la, por aceitar-se vulnerável e entender o sucedido como ponto de partida. Passivamente, o homem nunca evolui.

Todo homem acaba sempre suportando…

Todo homem acaba sempre suportando mais do que se julga capaz porque, hora ou outra, o inesperado acaba forçando-o a fazê-lo e forçando-lhe a adaptação, ensejando que lhe brote do íntimo uma força inédita sob o estímulo da imperiosa necessidade. O homem moderno, cujo cotidiano parece concatenar uma sucessão de falsas certezas, transmitindo uma impressão enganosa de segurança, oculta-lhe a noção do verdadeiro vigor.