A lei só cumpre a função social pela qual se justifica quando é expressão jurídica do senso comum. A partir do momento em que se precisa recorrer a um especialista para conhecê-la, ou melhor, a partir do momento em que se torna conhecimento especializado, distante, e não universalmente apreendido por óbvio, a lei perde a função social e torna-se mero meio de opressão por parte daqueles que detêm o poder de aplicá-la ou se beneficiam de sua aplicação.
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O que há de valoroso nos teosofistas…
O que há de valoroso nos teosofistas, ao menos a princípio, não é o sincretismo da doutrina que professam, mas o impulso inicial por estudar e compreender diferentes doutrinas, buscando nelas o que há de verdadeiro e bom. É, em suma, aquela velha humildade perante o desconhecido, aquele interesse genuíno pelo alheio, que começa pela concessão de um crédito manifesto na boa disposição para ouvir. Tão evidente e tão básico. Se a teosofia ensinasse essa única virtude aos homens, já se teria mostrado de grande valor. Todo o resto são lamentos.
É difícil imaginar um combustível mais efetivo…
É difícil imaginar um combustível mais efetivo ao ódio que o dogmatismo. Poder-se-ia dizer, até, que o ódio não se completa, não se manifesta com perfeição e intensidade máxima desprovido de tal elemento. Porque se faz algo o dogmatismo é determinar, consolidar, enrijecer. E quanto mais determina, quanto mais consolida, quanto mais enrijece, maior a aversão pelo que fica de fora, incluindo o que simplesmente desconhece. Afinal, o dogmatismo dota o ódio de suas notas mais extremadas, especialmente por irracionais.
A democrática destruição da superioridade
Outra de Guénon:
Cela dit, il nous faut encore insister sur une conséquence immédiate de l’idée « démocratique », qui est la négation de l’élite entendue dans sa seule acception légitime ; ce n’est pas pour rien que « démocratie » s’oppose à « aristocratie », ce dernier mot désignant précisément, du moins lorsqu’il est pris dans son sens étymologique, le pouvoir de l’élite. Celle-ci, par définition en quelque sorte, ne peut être que le petit nombre, et son pouvoir, son autorité plutôt, qui ne vient que de sa supériorité intellectuelle, n’a rien de commun avec la force numérique sur laquelle repose la « démocratie », dont le caractère essentiel est de sacrifier la minorité à la majorité, et aussi, par là même, comme nous le disions plus haut, la qualité à la quantité, donc l’élite à la masse. Ainsi, le rôle directeur d’une véritable élite et son existence même, car elle joue forcément ce rôle dès lors qu’elle existe, sont radicalement incompatibles avec la « démocratie », qui est intimement liée à la conception « égalitaire », c’est-à-dire à la négation de toute hiérarchie : le fond même de l’idée « démocratique », c’est qu’un individu quelconque en vaut un autre, parce qu’ils sont égaux numériquement, et bien qu’ils ne puissent jamais l’être que numériquement. Une élite véritable, nous l’avons déjà dit, ne peut être qu’intellectuelle ; c’est pourquoi la « démocratie » ne peut s’instaurer que là où la pure intellectualité n’existe plus, ce qui est effectivement le cas du monde moderne. Seulement, comme l’égalité est impossible en fait, et comme on ne peut supprimer pratiquement toute différence entre les hommes, en dépit de tous les efforts de nivellement, on en arrive, par un curieux illogisme, à inventer de fausses élites, d’ailleurs multiples, qui prétendent se substituer à la seule élite réelle ; et ces fausses élites sont basées sur la considération de supériorités quelconques, éminemment relatives et contingentes, et toujours d’ordre purement matériel.
Decerto, se algo alcançaram as democracias modernas, foi a imposição do número como critério supremo de valor, o que significa a destruição da superioridade qualitativa, ou simplesmente a “democratização”. Vale o indivíduo, o conhecimento, pelo que têm de igualitários, pelo que não os distingue. E assim tudo descai na mais completa farsa, posto que a igualdade só se realiza como atributo negativo, isto é, só há igualdade na carência passiva, e o menor esforço, o mérito mais insignificante é suficiente para eliminá-la. Como, pois, impraticável num mundo que se move, a “democratização” não tornou iguais os indivíduos, mas puniu violentamente o meritório, produzindo injusta e cinicamente uma espúria casta superior.