O conhecimento ignorante

De René Guénon:

La vérité est qu’il n’existe pas en réalité un « domaine profane », qui s’opposerait d’une certaine façon au « domaine sacré » ; il existe seulement un « point de vue profane », qui n’est proprement rien d’autre que le point de vue de l’ignorance . C’est pourquoi la « science profane », celle des modernes, peut à juste titre, ainsi que nous l’avons déjà dit ailleurs, être regardée comme un « savoir ignorant » : savoir d’ordre inférieur, qui se tient tout entier au niveau de la plus basse réalité, et savoir ignorant de tout ce qui le dépasse, ignorant de toute fin supérieure à lui-même, comme de tout principe qui pourrait lui assurer une place légitime,

Não há como resumir melhor o estado das ciências modernas, cada qual seguindo solitariamente o seu caminho em direção ao domínio cada vez mais completo dos detalhes e à ignorância cada vez mais completa do todo. Um progresso que consiste, em verdade, tal como assevera o próprio Guénon, numa regressão da inteligência. Este saber despegado do conjunto que se denomina realidade, isolado e inútil, sem que resulte da busca de uma compreensão ampla, sem que tenha implicações profundas na maneira como se encara o hoje, o ontem, a existência e suas razões de ser, realmente não se define melhor do que como um conhecimento ignorante.

Para além dos abalos incontornáveis…

Para além dos abalos incontornáveis na reputação de alguns dos autores analisados, a tese que permeia este Intellectuals, de Paul Johnson, parece justificar-se de maneira convincente pela variedade de exemplos oferecidos na obra. Demonstra Johnson que todo “intelectual” que se acredita capaz e deseja reformar o mundo segundo as próprias ideias acaba, cedo ou tarde, possuído por elas, o que significa adorá-las e tê-las acima da verdade, o que significa tomar partido delas em detrimento de pessoas reais. Possuído, converte-se em monstro moral, refutando pela conduta qualquer possível nobreza contida na ideia que o dominou. Em contrapartida, também demonstra Johnson que a saída para a atração magnética das ideias não pode se dar senão pelo apreço sincero à verdade e pela consciência de que uma ideia não vale uma vida. É uma obra que, como os bons tratados moralistas, humaniza por expor a desumanização.

O século XX não parece ter sido suficiente…

O século XX não parece ter sido suficiente para demonstrar o risco da politização da filosofia, nem os desastres decorrentes da interpretação do “ato” como ato político, ou da “responsabilidade” como princípio que pleiteia o indivíduo como agente coletivo. Persiste o esforço para desvirtuar o pensamento e empregá-lo como pretexto e recurso nesta fábrica moderna de ativismo, a despeito de comprovadamente só produzir destruição. É lamentável, mas não parece ser com menos ativismo que se poderá combater o ativismo atual.

Não se pode aceitar nem por um segundo…

Não se pode aceitar nem por um segundo o empacotar neste chamado existencialismo autores como Kierkegaard, Pascal e Dostoiévski, juntando-os a figuras como Heidegger e Sartre. Na verdade, o que mais espanta é ter sido justamente Sartre a propor tal empacotamento, como a inserir-se numa corrente fictícia e pretendendo tê-los absorvido todos, sem que lhe fosse objetado de pronto o absurdo de imaginar uma evolução de Pascal a Sartre. Nota-se, por exemplo, que Sartre emprega argumentos como “l’existence précède l’essence” ou “l’homme n’est rien d’autre que ce qu’il se fait” com o objetivo de pintar um homem isolado de sua circunstância, criado a partir do nada e independente desde o princípio, algo visivelmente antagônico ao pensamento cristão. E são, decerto, semelhantes disparidades que separam Sartre de vários outros rotulados “existencialistas”. Imaginar uma “corrente filosófica” que os une é algo que só interessa ao próprio Sartre, e que não deveria convencer ninguém.