O humor como finalidade

Fosse eu resumir numa máxima, diria que o humor ampara e precede as demais virtudes. E julgo seria infinitamente mais útil, ao invés de “consciência social”, ensinar aos jovens o bom humor. Quero dizer: ao invés de estimular chatíssimos debates sobre o aquecimento global, sobre as questões de gênero, sobre as baleias ou sobre a fome na África, o professor faria mais, uma vez por semana, lecionando comédia — e de preferência trajado qual palhaço. Assim os jovens poderiam captar a essência do humor, que não é senão a constatação do próprio ridículo; e aprenderiam a rir da realidade e a se não levarem tão a sério. Em alguns anos, teríamos uma geração menos arisca, e os adultos que se lhes entranhasse o bom humor veriam-no combatendo diariamente a vaidade e o orgulho, tornando suas vidas mais leves e felizes, afastando-lhes do ódio e propiciando-lhes um convívio social significativamente mais agradável.

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Reflexões ou sentenças e máximas morais, de La Rochefoucauld

François de La Rochefoucauld, moralista e arguto psicólogo francês, é autor pouco conhecido entre os brasileiros. É pena, muita pena! Pois o que La Rochefoucauld aprendeu sobre a natureza humana e confirmava em salões literários na França do século XVII pode ser perfeitamente apreendido em nosso tempo e confirmado em festas ou reuniões sociais de qualquer tipo. Mais do que isso: ler Reflexões ou sentenças e máximas morais com sinceridade pode ser um valiosíssimo exame de autoconsciência; quero dizer: lê-lo já não para julgar os outros, e sim para aprender sobre nós mesmos. É preciso coragem, não nego, mas se dermos o primeiro passo, então veremos desnudada em aforismos toda a nossa ambição, nossa miséria, nossas motivações e nossa vil estreiteza de espírito.

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Nietzsche e Cioran: leituras para adolescentes?

Já se tornou corriqueiro dizer que Nietzsche e Cioran não são autores para adultos bem formados, que toda a filosofia de ambos não causam fortes impressões senão em adolescentes. Pois bem. Digo de minha parte: leio Nietzsche e Cioran, sobretudo, pelo prazer estético. Considero ambos, antes de filósofos, exímios artistas; vejo neles uma potência de expressão que não encontro em outras bandas; e a validade ou não de suas filosofias, para mim, é questão meramente secundária. Se fosse analisar somente pela lógica, diria da filosofia de Nietzsche, se tomada em conjunto, absurda; da de Cioran diria que não nos conduz senão à apatia. Mas, para mim, nada disso constitui demérito. Quem busca na filosofia um manual infalível para pautar o próprio pensamento e as próprias ações faz melhor lendo autoajuda. Não me sinto obrigado a encaixotar Nietzsche e Cioran no grupo dos “não concordo”, não me sinto incomodado diante de suas ambiguidades ou delírios; pelo contrário, tenho-os como mestres do estilo. Como disse, leio ambos pelo prazer estético, para encontrar beleza e acuidade nas expressões e para vê-los fazer suscitar em mim o desconforto. E não deixo de notar a pobreza nas palavras dos que taxam toda a obra de Nietzsche e Cioran como “filosofia para adolescentes”. Nada mais raso que resumir tudo a “certo” ou “errado”, isso só demonstra estreiteza de visão e incapacidade para lidar com o ambíguo. Terminar uma obra repleta de nuances, impecavelmente escrita e dizer tão somente “não concordo” parece-me a mais adolescente das generalizações.

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Futuro da humanidade

Tenho algumas perspectivas otimistas no que tange ao futuro da humanidade. Aqui vai uma: imagino uma hipótese em que, num futuro próximo, os avanços digitais possibilitariam que João, um estocador de frios, comprasse um bilhete para embarcar eternamente em uma instigante realidade virtual. (Para que o mundo se tornasse realmente melhor com o avanço, o preço do bilhete teria de ser acessível; digamos, custando o equivalente a três anos de trabalho braçal.) Então João deixaria de ser um trabalhador mal remunerado, com péssimas perspectivas, insatisfeito com a vida, importunado pelos bancos e adotaria um nickname interessante, abrindo mão de uma vida pífia para adentrar em outra estimulante, repleta de aventuras e desafios, que guardasse glória e respeito ao player esforçado. O novo João, a depender de seu esforço, poderia ocupar uma posição de destaque em sua nova realidade. Em contrapartida, cá do lado real do mundo, a ciência poderia inventar uma máquina que mantivesse o funcionamento do cérebro de forma independente do corpo; isso possibilitaria que João, uma vez participante da nova realidade, fosse cortado do pescoço para baixo, sendo seus órgãos vitais destinados a transplantes. É uma possibilidade um tanto otimista: João ficaria satisfeito e faria a felicidade de algum necessitado. Demais, seus restos materiais — a princípio inúteis — poderiam ser usados em pesquisas científicas ou a outras finalidades que interessassem à evolução da espécie. Acredito que, dessa forma, a ciência e a tecnologia digital certamente estariam operando para a felicidade geral, o bem-estar da sociedade e o progresso da humanidade da uma forma socialmente sustentável e consciente.

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