A fibra e a resiliência

A fibra e a resiliência só são possíveis no homem humilde o bastante para, vestindo a carne, admitir a necessidade de ancorar o espírito em algo maior. Só afirmará o contrário aquele cuja missão não exija virtude, posto que esta, necessariamente, é o esforço contínuo e contrário ao comodismo da matéria. Não há homem cujo espírito não oscile, e o espírito, quanto mais alto, mais é capaz de oscilar. Percebê-lo é admitir a necessidade de um apoio, alheio a si mesmo, que o empuxe ao ideal que ele mesmo definiu.

Há apenas um parâmetro relevante

Existencialmente, há apenas um parâmetro relevante: o grau de satisfação do indivíduo com a própria vida. Dele derivará sua felicidade e sua miséria, no sentido mais preciso de ambos os termos. Embora simplíssima, e não represente senão o sentimento de fazer aquilo para o qual se nasceu, a satisfação exige, primeiro, a consciência da individualidade, do livre-arbítrio e da capacidade de criação. O resto é afirmá-los de contínuo, resumindo a própria existência a este ato. Fazê-lo é simplesmente ser com consciência e plenitude, e com fazê-lo desaparece a relevância de todas as demais questões. Aquele que experimenta satisfação com a própria vida é tomado de uma vontade, de uma euforia saudável que impulsiona a mais viver. Em mesma medida, a insatisfação gera o impulso contrário. Daí que, em essência, felicidade e miséria são alheias ao conforto e referem-se sobretudo a um estado interior.

O movimento espiritualista

O movimento espiritualista, se assim podemos chamá-lo, que emergiu nos últimos dois séculos e tem-se expandido com vigor espetacular, invadindo incontáveis áreas do conhecimento e aprofundando-se desenfreadamente, não pode senão inspirar bons sentimentos. Parece que, de uma só vez, juntaram-se a experiência, a seriedade, o método e, sobretudo, a boa-fé num número de espíritos que já não se pode contar nos dedos, formando uma corrente que não pode ser detida, posto que apresenta simultaneamente o preparo e o ânimo necessários para afirmar-se e levar a cabo a sua missão. O que mais impressiona é a terminologia, por muito tempo banida da literatura séria, que agora se emprega com absoluta naturalidade após uma invasão inesperada. Não há dúvida que, no painel da história, ficarão estes dias marcados por esta radical e benéfica transformação.

O postulado a partir do qual brota…

O postulado a partir do qual brota o grosso da investigação científica, isto é, o materialismo, não é senão uma hipótese, e talvez uma hipótese redondamente incorreta. Partir da premissa de que é da matéria que derivam todos os fenômenos observáveis pode ser, simplesmente, partir de uma premissa falsa, posto que não há comprovação nenhuma para tal. Assim que, no sentido que se aplica para o termo, a investigação científica é quase sempre apoiada numa premissa anticientífica — algo, é verdade, necessário, mas que deveria ser motivo suficiente para que os mais fanáticos se enchessem daquela humildade que já os não parece nortear.