É preciso retornar sempre àquilo que dá unidade ao ser, mesmo e mormente sob assaltos repetidos da mutabilidade. A cada mudança, a cada aparente dissolução do duradouro, é esforçar-se pelo retorno a si mesmo, de novo e de novo. Se, é verdade, a estabilidade pode ser uma quimera, o esforço por ela não é vão; e este, se constante, ainda que numa constância imperfeita, acaba por criar neste próprio ato algo próximo da estabilidade desejada. Estabilidade, equilíbrio e continuidade são, antes, qualidades interiores.
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Nada há de mais absurdo do que viver…
Nada há de mais absurdo do que viver recordando-se da eternidade, isto é, ter em vista sempre a atemporalidade enquanto se existe na escala temporal. O eterno elimina o tempo; não há contingência que não se dissolva em sua escala. E portanto nada pode haver de mais antinatural que meditar nela quando a estrutura da vida, a cada passo, a cada detalhe, é-lhe o oposto. Antinatural, absurdo; e necessário, porque só assim se pode vencer a ilusão do argumento precedente. Existe-se na escala temporal: muito bem, muito bem; e só isso?
A maior prova da inadaptação do homem…
A maior prova da inadaptação do homem ao mundo e de sua incapacidade de compreender as escalas da realidade é que praticamente todas as línguas não diferenciam o verbo ser do verbo estar. Um verdadeiro escândalo, posto que ser e estar, ou melhor, aquilo que está e aquilo que é sejam coisas radicalmente distintas. Confundi-las é um erro de percepção tão óbvio e tão gritante que faltam palavras para descrevê-lo. Confundi-las é confundir, em suma, o imutável com o mutável, a permanência com a efemeridade, o que é e o que não é.
O que mais desmotiva é ver…
O que mais desmotiva é ver que, afinal, o sonho da estabilidade é vão… Haverá sempre o dia em que, por razões desconhecidas, o mundo amanhecerá azedo, disruptivo, desagradável, e então se questionara o esforço, o progresso, a razão. E a conclusão será sempre a mesma, de que estabilidade plena só há no que não se move, de que a vida é antagônica à paz…