Apesar de que os primeiros anos de uma vida intelectual pareçam, de longe, os mais frutíferos, nos quais cada um deles como opera uma transformação completa no conhecimento, após certo tempo, embora o avanço aparente perder momentum, é notável o ganho em orientação. Quer dizer: no início, quando tudo é novidade, descobre-se muito, mas o conhecimento se amplia simultaneamente em muitas direções, e dificilmente se vislumbra um direcionamento, dificilmente se percebe para onde o esforço irá conduzir. Após alguns anos, erra-se muito menos, e embora aumentem as dificuldades, avança-se com mais consciência para onde se quer.
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Quando se segue a recomendação…
Quando se segue a recomendação de Ortega y Gasset, de Viktor Frankl e de Louis Lavelle, os quais, sob prismas diferentes, ressaltam a importância de buscar a integração da circunstância individual no plano da existência, o ato adquire, decerto, uma solidez extraordinária, e a vida embebe-se de seriedade. Mas há, aqui, um problema inevitável, o de que às vezes a circunstância é tão miserável e deprimente, que sua assimilação chega a ser perigosa. Quer dizer: aquele que deseja mirar e compreender a realidade crua, se tomado por este senso de responsabilidade perante a circunstância, não pode fazê-lo jamais como um observador distanciado e imparcial. O que chama para si é aquilo que sofre, o que busca integrar é aquilo que o estorva, pressiona, deprime. O que faz é o contrário da vereda racional do distanciamento, e esta tarefa nunca é empreendida sem deixar profundas marcas no caráter. O resultado pode não ser nada bom…
O desconforto espanta a futilidade…
O desconforto espanta a futilidade com uma eficácia tão absoluta que, muitas vezes, sua chegada revela-se providencial. Sem ele, quantas empresas não seriam preteridas, quantas decisões não seriam jamais tomadas, quantas biografias deixariam de ser? Assim que se tem de valorizá-lo enquanto elemento motivante, em vez de ceder ao impulso mais corriqueiro de reclamar. Quando se lhes analisa as obras, quer em abundância, quer em qualidade, o desconforto submete completamente o conforto.
Se o que distingue o ser é o ato…
Se o que distingue o ser é o ato, e o que caracteriza o ato é a escolha, é preciso repetir mil vezes que o indivíduo sempre se torna as escolhas que faz, e que a sabedoria se resume a saber escolher. O problema é que a escolha, enquanto elemento unificante, é menos uma decisão que uma prática perene, de forma que, sem esta continuidade, desfigura-se, chegando mesmo a se anular. Escolher, portanto, envolve decidir e manter-se fiel à decisão.