O homem que necessite compreender a realidade e compreender-se para empreender uma tentativa de integração será, mesmo, um estranho. E mais se achará estranho quanto mais compreenda da realidade e de si, quanto mais se convença de que o que sabe é pouco, e que não pode aceitar a realidade apenas porque ela é. Ao mesmo tempo, será assaltado de todas as direções em razão de sua incapacidade para a adaptação passiva, e acabará estigmatizado por ser o que é. Enfrentará, assim, grandes e singulares dificuldades por não conseguir se livrar de sua predisposição. Apenas com sorte, o mundo lhe parecerá menos que hostil. E apesar de tudo isso, e a despeito de quanto enfrente e de quanto sofra, a infelicidade lhe só será garantida e completa caso deixe de cumprir o seu dever.
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Mais impressiona do que esta necessidade…
Mais impressiona do que esta necessidade permanente de orientação, tão característica dos filósofos, que os conduz a uma investigação que só termina com a morte, é o fato de que, muitos, tão logo a empreendem, satisfazem-se com as respostas que encontram e, tranquilamente, deixam de investigar. Quer dizer: o conhecimento que, como sabido, quanto mais cresce, mais escancara o desconhecido, e portanto mais levanta perguntas, mais instiga o estudo, mais amplia o campo de investigação, nalgumas mentes não gera efeito semelhante. É muito difícil não recorrer a uma predisposição para justificá-lo, e validar a observação de Ortega y Gasset de que um filósofo é, simplesmente, aquele que não pode ser outra coisa.
É preciso retornar sempre àquilo que dá unidade
É preciso retornar sempre àquilo que dá unidade ao ser, mesmo e mormente sob assaltos repetidos da mutabilidade. A cada mudança, a cada aparente dissolução do duradouro, é esforçar-se pelo retorno a si mesmo, de novo e de novo. Se, é verdade, a estabilidade pode ser uma quimera, o esforço por ela não é vão; e este, se constante, ainda que numa constância imperfeita, acaba por criar neste próprio ato algo próximo da estabilidade desejada. Estabilidade, equilíbrio e continuidade são, antes, qualidades interiores.
Nada há de mais absurdo do que viver…
Nada há de mais absurdo do que viver recordando-se da eternidade, isto é, ter em vista sempre a atemporalidade enquanto se existe na escala temporal. O eterno elimina o tempo; não há contingência que não se dissolva em sua escala. E portanto nada pode haver de mais antinatural que meditar nela quando a estrutura da vida, a cada passo, a cada detalhe, é-lhe o oposto. Antinatural, absurdo; e necessário, porque só assim se pode vencer a ilusão do argumento precedente. Existe-se na escala temporal: muito bem, muito bem; e só isso?