É preciso ter uma frieza ofídica e valores muito sólidos para, numa situação extrema de risco iminente, refletir num átimo e tomar a decisão correta. Situações assim, em que o homem se encontra no limiar entre covardia e coragem, são frequentemente chaves de uma biografia e seus efeitos perduram por quanto tempo uma vida se estender. É como o caçador que, com o rifle descarregado, é surpreendido por um tigre faminto: o lance se impõe e não há evitá-lo; o olhar fixo na fera evidencia um movimento em falso ser a morte; e, com o coração disparado, tem de o homem decidir.
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A liberdade de pensar
É verdade: nada parece tão intolerável e tão revoltante como a opressão que quer tirar do homem aquilo que talvez seja a única coisa realmente sua: a liberdade de pensar. Tal violência não é senão uma investida que, efetivada, resulta na anulação do próprio indivíduo. Um homem chicoteado, mutilado ou violado não perde, em nada, aquilo que lhe consiste a essência, portanto parecem estas agressões muito mais leves quando as confrontamos com a supressão de seu pensamento. Quer dizer: o homem, proibido de pensar livremente, perde-lhe a dimensão humana e aproxima-se de um animal.
A honra reclama a desobediência civil
Há, como diz Thoreau, um momento em que a honra reclama a desobediência civil intransigente, a despeito de a punição para tal comportamento ser a cadeia ou a forca. Esta coisa chamada democracia talvez resuma-lhe o valor em ter substituído tiranias declaradas ou, melhor dizendo, em ter o conhecimento destas últimas tornado “democratas” muitos homens de valor. Então vemos que, na prática, a tirania não fez senão mudar de nome. É impossível não pensar em Kafka quando confrontamos a tal democracia com o indivíduo solitário. Se pensamos, por exemplo, no imenso poder opressivo da máquina do Estado ou, mais especificamente, no dos iluminados de toga, que fazem cumprir quanto quiserem, vemos do outro lado um nada de joelhos, amarrado e sob ameaça dupla do chicote e da mordaça. Porém, agora, num misto de enredo kafkiano e nuances de Orwell e Huxley, a opressão é entregue em embalagens tão afáveis quanto falsas. Compreendê-lo e aceitá-lo de bom grado é atirar no lixo a honra e a faculdade de pensar.
Há uma tensão que precede momentos sabidos “importantes”…
Há uma tensão que precede momentos sabidos “importantes” que não somente perturba o equilíbrio mental, mas acentua a propensão a atos súbitos e radicais. É como se esta apreensão deslocasse o discernimento e colocasse a mente num estado de alerta que se assemelha ao do soldado em pleno campo de guerra, sempre à beira de um ímpeto violento. Assim que além de ser justa toda cautela ao experimentá-la, mais importante é atenção para, notando-a noutras pessoas, não ser estúpido o bastante para atiçá-la.