Sêneca disse que, se lhe oferecessem a sabedoria com a condição de guardá-la para si mesmo, sem poder comunicá-la a ninguém, não a desejaria. E é, mesmo, curioso que maior do que o encanto em compreender a realidade é o encanto em descrevê-la, verbalizá-la, que nos parece imprescindível para que nos provemos realmente a dominando, para que nosso pensamento realmente se consolide. Embora possuir a sabedoria e estar apto a comunicá-la sejam coisas distintas, o não saber comunicá-la parece-nos evidência de que a não possuímos plenamente, e há trabalho a ser feito para galgar este degrau.
Tag: filosofia
Algum filósofo notou ser a obra filosófica…
Algum filósofo notou ser a obra filosófica a repercussão de um lampejo único e decisivo, a partir do qual facilmente se delimita um antes e um depois. Tal lampejo é decerto observável; mas o curioso é que ele, ocorrendo de praxe antes dos trinta, aponta somente o caminho, o incontornável caminho, mas não assegura para onde este conduzirá. Pelos trinta, não há como negar, faz-se filosofia mais ou menos como se faz literatura: registrando e discorrendo sobre impressões. Estas, ainda que verdadeiras, ainda que determinantes, parecem pedir tempo para cristalizar. Quer dizer: a admirável, a impressionante segurança com que se expressam alguns filósofos de cabeça branca quase nunca é igualada por filósofos mais jovens, o que parece sugerir que o grande filósofo descobre-se cedo, mas só se realiza após um longo tempo de maturação.
Para saber respeitar, é preciso saber desprezar
Salvo engano, foi Nietzsche quem disse que, para saber respeitar, é preciso saber desprezar. E é por isso que o elogio iterado parece oco. Conquanto seja muito mais agradável, é preciso exercitar também a crítica, para que o elogio, quando venha, saia valorizado. Rejeitar e apreciar são, enfim, manifestações complementares e indissociáveis.
O desdém é a resposta mais infantil…
O desdém é a resposta mais infantil perante a realidade dos milagres. Encará-los sinceramente é um inigualável exercício de humildade, que impõe a consciência de uma insignificância e uma vulnerabilidade estranhas à presunção moderna. Em verdade, encará-los com sinceridade é correr o risco de descambar num estado de paralisia, quiçá desânimo, perante a confrontação irrefutável daquilo que há e aquilo que se é.