A angustiante sensação de não pertencimento…

A angustiante sensação de não pertencimento parece muito mais uma questão interior que propriamente objetiva. Objetivamente, se pertence ao lugar em que se nasce. E se vemos Schopenhauer, por exemplo, a experimentá-la durante toda a vida, não podemos creditá-lo senão a uma disposição interior. Schopenhauer, em verdade, via-se relativamente bem acomodado, a adaptou-se também relativamente bem às circunstâncias que lhe foram impostas, embora não o tenha percebido. A sensação que carregou pela vida não foi senão um estorvo psicológico do qual não conseguiu se livrar.

Há derrota somente se a circunstância paralisa

Há derrota somente se a circunstância paralisa, decretando o fim de uma trajetória. Isso, aliás, vale mesmo para a morte: frequentemente esta desencadeia uma progressão que lhe anula os efeitos, uma progressão talvez só possível graças a ela própria. Daí que, em suma, enquanto não se esgotam os meios de resposta, não se sucumbiu; e quando estes aparentemente se esgotam, ainda há vitória possível — desde que, é claro, tenha-se preparado para tal.

Somente o caráter

Já disseram com acerto que, de uma biografia, resta somente o caráter do biografado. E percebemo-lo especialmente nos exemplos que pareceriam contradizer a regra: na biografia de homens que legaram uma obra intelectual. Destes, os quais marcaram por algo que não ações práticas, após lhes analisarmos a vida retemos a imagem do que foram no mundo prático, das decisões que tomaram, do temperamento e do cotidiano. Lembramo-nos de como viveram. Lembramo-nos do libertino, do consequente, do sorumbático e do canalha. Tudo isso ensina muito, e firma um laço indissociável entre o imaginativo e o real.

É sempre tarde para fazer o que poderia…

É sempre tarde para fazer o que poderia ter sido feito antes, mas sempre possível livrar-se do peso de não ter tentado. Há barreiras para as quais a justificação é de praxe gratuita: se algo parece bom, que seja feito! O resto será experiência e aprendizado. A mente custa para se libertar de amarras antigas, mas os anos demonstram que nunca se arrepende quando se vence a resistência mental e se arrisca à novidade sinceramente desejada; mais do que isso: são atos deste tipo que frequentemente entram para a memória como as melhores decisões.