Há um conselho que muito agradaria os leitores…

Há um conselho que muito agradaria os leitores, mas jamais foi dado a escritor algum, e que consiste no seguinte: o autor cujas páginas dos livros que tem não bastam para satisfazer sua necessidade de comentá-los faz bem destinando o excesso, ou o todo de seus comentários a uma obra concebida especificamente para tal. Fazendo isso, evita-se, primeiro, que tais comentários se interponham numa narrativa que nada tem com eles, que a interrompam e a atrapalhem. Em segundo lugar, tal obra, existindo, fará bem ao próprio autor, que terá nela um estimulante depósito de comentários, caso não disponha de um amigo ou uma pessoa real qualquer para exercer esta função.

A vantagem de um romance cujo arco dramático…

A vantagem de um romance cujo arco dramático é bem definido, ainda que a sucessão de acontecimentos, por exageradamente coesa, beire a artificialidade, é manter vivo e intenso o sentido de conjunto na mente do leitor, algo que, resumindo, sustenta-lhe o interesse. Já os romances, digamos, mais “naturais”, que refletem a natural futilidade dos personagens e a natural trivialidade de suas vidas e de suas preocupações, rapidamente se tornam tediosos e, ainda que aparentem menos forçados, muitas vezes não resistem à tentação constante de fechá-los.

O mais difícil em retratar a circunstância temporal…

O mais difícil em retratar a circunstância temporal na obra literária é especificá-la a ponto de que se torne especial, ao mesmo tempo que se lhe sintetiza a ação enquanto agente exterior num esquema que extrapole o tempo. Tenda para qualquer um dos lados, e o artista falhará em fazer com que a obra desperte um interesse duradouro, só possível quando se constrói camadas de sentido diversas, mas indissociáveis, conectando o abrangente ao particular.

O sujeito que não lê ficção

O sujeito que não lê ficção, de praxe, julga a literatura fútil e incapaz de influir praticamente na sua vida. Mas ocorre que, saiba ele ou não, privar-se da literatura é privar-se da apreensão de possibilidades, o que acaba significando, praticamente, limitar a própria vida. Em termos ainda práticos, o iletrado se distinguirá sempre por taxar o velho de novo, e por estacar diante de uma infinidade de banalidades não sabendo como reagir.