O falso escritor abre mão de sua individualidade

O falso escritor abre mão de sua individualidade para agradar, recebendo por isso o prêmio da aceitação social. Ele é falso, primeiro, por não afirmar-se; segundo, porque crê que a aceitação social seja um prêmio. Quão mais fáceis são as coisas para o verdadeiro escritor! Este vê no dilema uma maravilhosa situação de ganha-ganha: afirma-se desagradando, e recebe por isso o benefício da rejeição social.

O mínimo que se espera de um escritor…

O mínimo que se espera de um escritor digno deste nome é considerar um insulto o mero conjeturar destes adeptos à engenharia social moderna, que se julgam no direito e com o poder de determinar como os outros devem se expressar. Porque é exatamente isto o que merece a polícia da linguagem: um absoluto e terminante desprezo, que deve ser estendido ao escritor que a ela se submete, que se humilha adequando-se aos ditames súbitos e delirantes de meia dúzia de palhaços que se acreditam poderosos o suficiente para submeter tradições literárias que remontam a séculos e por muitos outros se estenderão.

O fascinante da literatura é possibilitar-nos…

Outra de Louis Lavelle:

Nous avons plus d’émotion à retrouver dans un auteur les sentiments que nous éprouvons en secret que ceux dont nous témoignons, ceux qui sont en nous en germe que ceux qui ont déjà éclos. Les œuvres de l’esprit ont pour objet un monde que nous portons en nous et qui est souvent invisible à nos propres yeux ; l’auteur qui nous le révèle acquiert du premier coup avec nous une intimité mystérieuse.

O fascinante da literatura é possibilitar-nos a absorção de experiências que, em vida, jamais teríamos. Em certa medida, ela cumpre papel idêntico ao das circunstâncias exteriores, ao estimular-nos no íntimo a manifestação de sentimentos, reações e pensamentos que necessitam de um estímulo específico para aparecer. O entendimento cresce com a compreensão de novas possibilidades e, como está dito, criamos com o autor que as revela um laço difícil de explicar.

O primeiro dever do escritor

Diz Lavelle:

Le premier devoir de l’écrivain doit être de s’élever assez au-dessus de toutes les circonstances de sa vie particulière pour fournir à tous les êtres un appui de tous les instants et les montrer à eux-mêmes tels qu’ils voudraient être toujours.

Tal dever talvez seja o mais difícil, porque o “elevar-se acima de todas as circunstâncias” envolve, primeiro, compreendê-las, e compreender como porventura elas se integram no painel maior da existência individual para, só então, tendo delas extraído um sentido cristalino, pensar em como este sentido pode ser transplantado à experiência humana geral. E comunicá-lo! De fato, não há experiência humana, por individual que seja, cujo sentido não se pode extrair em circunstâncias distintas; o difícil, contudo, é ver o grande no pequeno, algo que crescemos desacostumados a fazer.