Cândido, ou o otimismo, de Voltaire

Assim como A revolução dos bichos, de George Orwell, é a melhor vacina contra o comunismo, Cândido, ou o otimismo, de Voltaire, é a melhor vacina contra a risível noção contemporânea de autossuficiência do homem. “Você pode conseguir o que quiser”, “o mundo é uma projeção do seu interior”, “pensar positivo é a chave para o sucesso”, e outros muitos jargões contemporâneos são facilmente derrubados pelo escárnio de Voltaire. E se temos hoje ressalvas quanto ao julgamento da filosofia de Leibniz feito em Cândido, em decorrência do redescobrimento deste filósofo já no século XIX, a obra imortal de Voltaire não deixa jamais de perder seu valor instrutivo. Em suma, Voltaire coloca Cândido diante da impotência humana perante o meio, da implacável maldade humana em todas as terras e do vil desejo que comanda nossas ações. E Cândido, mesmo encontrando o paraíso terrestre após uma sucessão escandalosa de desditas, decide deixá-lo após julgar que neste país seria “como todos os outros” e que não estaria na companhia de sua amada — que, segundo seu julgamento, já deveria dispor de novo amante; — mostrando-nos como o homem é refém da própria natureza e da própria ambição. Podemos tirar de Cândido, pois, uma lista de lições, dentre elas estas, valiosíssimas em nosso tempo: humildade perante as nossas possibilidades, vergonha perante a ambição que nos domina e reverência perante o fado que nos assola.

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Rodrigo Gurgel: o grande nome da literatura brasileira

Conheci Rodrigo Gurgel lá por 2012 ao ler sobre um “escândalo” no Prêmio Jabuti: um jurado havia dado zero em dez para um romance da então presidente da Academia Brasileira de Letras, Ana Maria Machado; o jurado era Rodrigo Gurgel e o romance havia perdido o prêmio justamente em decorrência desse zero. Achei o fato curiosíssimo e coloquei-me a investigá-lo. Foi que, ao buscar as justificativas do jurado, conheci um crítico literário lúcido e corajoso, com personalidade para classificar o romance como mal escrito e dizer que ele não passava uma peça de proselitismo ideológico.

Impressionado das palavras, fui buscar mais conteúdo do crítico. Acabei conhecendo-lhe o blog, na época hospedado no Blogger, e desde então lhe acompanho de perto o trabalho, que contribuiu de forma inestimável para a minha formação. Rodrigo Gurgel indicou-me grandes leituras, ajudou-me a interpretar variados autores e, sobretudo, serve-me como um guia: quando hesito em saber que pensar de tal ou qual autor, então busco a opinião do professor, que jamais deixou de trazer-me luz.

E por que o classifico como “o grande nome da literatura brasileira”? Porque hoje, no cenário literário brasileiro, não há ninguém exercendo influência tão forte, tão positiva e tão determinante como Rodrigo Gurgel.

No momento em que escrevo, Rodrigo Gurgel conta 27,3 mil seguidores no Instagram, 65,8 mil inscritos no YouTube, 55,5 mil seguidores no Twitter e 6,6 mil membros em seu recém-criado grupo do Telegram. São números extremamente expressivos, que nos não permitem sequer lhes estimar os frutos. São milhares de pessoas submetendo-se à influência lúcida e encorajadora do professor; milhares de pessoas comprando bons livros, recomendando bons livros, preparando-se para escrever. O trabalho de Rodrigo Gurgel, ao atrair tamanho interesse para a literatura, afeta o mercado literário de forma incalculável: o sujeito que compra um livro estimula as editoras a imprimirem novos livros, estimula escritores a escreverem; recomendando um livro estimula o amigo a comprá-lo, podendo daí resultar nova recomendação; escrevendo e estudando pode — quem sabe? — contribuir para as letras nacionais no futuro. Ao longo de uma, duas décadas, quem poderá medir os efeitos de um trabalho como esse? Se alguém merece, hoje, algum prêmio de reconhecimento pelos serviços prestados à literatura brasileira, esse alguém é Rodrigo Gurgel.

Por isso deixo aqui, mais que uma indicação, a manifestação do meu respeito por aquele que julgo um professor excepcional, digno de todo o mérito, e cuja inteligência e simpatia certamente são capazes de cativar qualquer um que se arrisque a conhecê-lo. Rodrigo Gurgel, demais, cumpre um papel importantíssimo preenchendo o vácuo na formação literária dos brasileiros. Assim, abaixo tentarei resumir-lhe o trabalho, deixando links para as mídias onde está presente.

Site
rodrigogurgel.com.br

Aqui está todo o arquivo de textos de Rodrigo Gurgel para o blog que mantém ativo desde 2004 (antes hospedado neste link). Digo todos e já não sei se falo a verdade. De qualquer forma, ficam aí os dois links que contêm centenas de textos de Rodrigo Gurgel a respeito da literatura nacional e internacional, onde vários autores são abordados e diversas análises e reflexões estão à disposição do leitor.

Jornal Rascunho
rascunho.com.br/autor/rodrigo-gurgel

Aqui Rodrigo Gurgel escreve, desde 2010, a respeito dos principais prosadores da literatura brasileira. O arquivo do site permite-nos acesso à muitas resenhas e ensaios publicados pelo professor.

YouTube
youtube.com/c/RodrigoGurgel

Neste canal Rodrigo Gurgel tem seu maior público. O conteúdo é excelente e não encontra, nem de perto, nenhum concorrente a nível nacional. Podemos, basicamente, dividir a temática do canal entre: dicas para escritores, análises e recomendações de livros, dicas de gramática, poesia, cursos e entrevistas. No momento em que escrevo o canal conta 107 vídeos e 1,7 milhões de visualizações. Muito conteúdo de qualidade.

Instagram
instagram.com/rodrigogurgel12

Instagram pessoal do professor.

Facebook
facebook.com/rodrigo.gurgel1

Facebook pessoal do professor.

Twitter
twitter.com/rodrigogurgel

Twitter pessoal do professor.

Telegram
cutt.ly/rodrigogurgel

Recentemente criado, neste grupo do Telegram Rodrigo Gurgel publica conteúdo diário, abordando temas diversos. Inscrevendo-se no Telegram é garantido que o algoritmo não lhe irá esconder o conteúdo postado (pelo menos por enquanto…).

Oficina de escrita criativa
cursos.rodrigogurgel.com.br/ementa-oficina-de-escrita-criativa

Aqui Rodrigo Gurgel disponibiliza inscrições para seus cursos de escrita criativa, que normalmente se abrem uma vez por semestre.

Livraria
livraria.rodrigogurgel.com.br

Na livraria de Rodrigo Gurgel temos acesso a inúmeros livros com preços bastante competitivos. Vale incluí-la nas pesquisas, e vale ficar atento para as diversas obras que frequentemente são anunciadas com desconto. Destaco, também, o preço promocional para as obras do próprio autor: podemos comprar os quatro livros já publicados por Rodrigo Gurgel — em que são analisados prosadores brasileiros — a um desconto de 45%  (no momento em que escrevo).

É isso. Espero que aproveitem a recomendação!

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Matizes de tormentos

Vamos deste belo soneto de Camões:

Ditoso seja aquele que somente
Se queixa de amorosas esquivanças;
Pois por elas não perde as esperanças
De poder n’algum tempo ser contente.

Ditoso seja quem, estando ausente,
Não sente mais que a pena das lembranças;
Porqu’, inda que se tema de mudanças,
Menos se teme a dor quando se sente.

Ditoso seja, enfim, qualquer estado
Onde enganos, desprezos e isenção
Trazem o coração atormentado.

Mas triste quem se sente magoado
D’erros em que não pode haver perdão,
Sem ficar n’alma a mágoa do pecado.

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O artista e a coerência

Direi aqui o que para mim é uma obviedade: um artista não tem de prestar contas à coerência. Caso ache necessário, dispõe de liberdade para atirá-la ao espaço. E por que digo isso? Porque me causa fastio ver críticos a dizer de tal ou qual autor “incoerente”. Para mim é muito claro: quando um filósofo ou ensaísta senta-se e pôe-se a escrever o objetivo é um só: a lógica; o autor irá organizar seus pensamentos para expor seu raciocínio da forma mais límpida e precisa que conseguir. O artista, não. Quando um artista senta-se à mesa o objetivo é outro: é expressar-lhe o sentimento com a maior potência possível, ou causar a mais forte impressão no leitor. Coisas diferentes. Por isso é impossível a comparação entre um Aristóteles e um Fernando Pessoa. Um faz uma coisa, outro faz outra. E o artista que sacrifica a expressão pela coerência simplesmente diminui a sua arte: defender ideias não diz respeito a seu trabalho. Nos versos de um gigante:

Do I contradict myself?
Very well then I contradict myself;
(I am large, I contain multitudes.)

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